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8 set 2020
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"Penso que, além das questões como Escola Sem Partido e identidade de gênero que hoje tomam muito espaço no debate da área de educação com a sociedade – e não quero tirar aqui sua importância –, deveríamos estar mais preocupados com os atuais índices de aprendizagens escolares, a começar pela alfabetização de nossas crianças" por Mozart Neves Ramos para o Correio Braziliense.

Por Mozart Neves Ramos
(Opinião – Correio Braziliense – 03/12/2018)

Penso que, além das questões como Escola Sem Partido e identidade de gênero que hoje tomam muito espaço no debate da área de educação com a sociedade – e não quero tirar aqui sua importância –, deveríamos estar mais preocupados com os atuais índices de aprendizagens escolares, a começar pela alfabetização de nossas crianças.

Um país verdadeiramente interessado em seu futuro deveria se preocupar que, a cada 100 crianças que concluem o 3º ano do Ensino Fundamental, apenas 45 estão plenamente alfabetizadas – e a grande maioria já com 9 anos de idade. Ou ainda porque, de cada 100 jovens que concluem o Ensino Médio, apenas 7 aprendem o que seria esperado em Matemática; e, em Língua Portuguesa, apenas 29.

Deveríamos também nos preocupar com a questão da permanência escolar. De cada 100 crianças que começam o 1º ano do Ensino Fundamental, apenas 50 chegam ao final do Ensino Médio; e aqueles que o concluem o fazem com os índices de aprendizagens mencionados. A título de comparação, se fosse um hospital: de cada 100 pacientes que entram, apenas metade sobrevive, e dos que sobrevivem, a maioria sai com sequelas.

Por isso, entendo que, sem desmerecer as demais agendas –incluindo a Escola Sem Partido e a identidade de gênero –, nossa preocupação deveria estar dirigida a tomar medidas fortes que mudem o atual estado de baixa aprendizagem e permanência escolar. Deveríamos mobilizar o país para responder à seguinte pergunta: que escola devemos oferecer às nossas crianças e aos nossos jovens que seja capaz de motivá-los à aprendizagem e a não abandonar os estudos? Esse deveria ser o grande debate nacional.

Ao mobilizar a sociedade em torno dessa causa e fortalecer a colaboração com os estados e municípios, em conformidade com os artigos 211 da Constituição Federal (CF) e 8 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), criaríamos o ambiente propício à mudança que irá exigir muita energia de todos – a começar pela atual formação dos nossos professores, que está absolutamente distante da realidade da sala de aula e com o olhar mais no retrovisor que no farol. Nossas universidades precisam entender isso, se quiserem dar uma real contribuição ao desenvolvimento do país. Não deixo de reconhecer as importantes contribuições das universidades, entre elas a formação de mestres e doutores para a sociedade brasileira. Refiro-me àquilo que, no atual estágio do desenvolvimento brasileiro, é o mais importante: a aprendizagem escolar de nossas crianças e de nossos jovens na Educação Básica.

Outro fator importante seria a implementação de um novo currículo para as nossas escolas, baseado nas competências esperadas para o século XXI (e já estamos nele!), que estão presentes na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – as conhecidas dez competências gerais da BNCC. Dominar os conhecimentos da língua materna, do Inglês, da Matemática, das ciências – isso representa apenas o ponto de partida, não mais o de chegada. O mundo atual e futuro vai exigir que nossos jovens tenham competências desenvolvidas em criatividade, pensamento crítico, abertura ao novo, colaboração – saber trabalhar em equipe – e comunicação, entre outras. Isso exige uma sala de aula que vá além das novas tecnologias.

Não se trata simplesmente de colocar tablets na mão de alunos e professores ou disponibilizar internet e banda larga – essas ferramentas são o lápis e o caderno dos dias atuais, o mínimo esperado, em termos de condições iniciais, para dar uma escola com significado para nossos alunos. A escola a que me refiro deve ser capaz de promover o desenvolvimento pleno deles, na perspectiva dos Artigos 205 da CF e 2 da LDB, dando-lhes condições não só para ir bem num eventual curso superior ou no ingresso ao mundo trabalho, mas preparando-os para uma vida plena – profissional, social e pessoal.

O leitor pode perguntar: e já temos essa escola no Brasil? Felizmente, sim. O modelo desenvolvido no Colégio Estadual Chico Anysio (CECA), no bairro do Andaraí, no Rio de Janeiro, e o do Ginásio Pernambucano, em Recife, são belos exemplos. E, desde 2017, está em marcha um esforço para reproduzir esses modelos incorporando valores locais de cada rede de ensino, mas resguardando a sua coluna vertebral. É o que está acontecendo em 30 escolas do estado de Santa Catarina que têm a estrutura inspirada na do CECA.

Portanto, não estamos falando de sonhos. O que temos são realidades que precisam ser enfrentadas corretamente para que os resultados apareçam.

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Instituto Ayrton Senna Organização sem fins lucrativos comprometida com a educação

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