Por Ana Carolina Zuanazzi do Instituto Ayrton Senna
Em época de Fake News, precisamos mais do que nunca despertar em nós mesmos o espírito investigativo.. Investigar vai além da simples reprodução de ideias pré-concebidas, investigar vai além dos números, investigar é colocar nosso lado “Sherlock Homes” em prática e nos aprofundar sobre o que os dados nos contam, sobre o que as evidências nos mostram. E, assim como o famoso personagem de Sir Arthur C. Doyle, precisamos ir a fundo em cada pista e elemento de uma informação, levantar os porquês, as causas e efeitos, para então darmos sentido mais aprofundado e crítico ao que percebemos à nossa volta.
Desde muito cedo colocamos em prática nossa curiosidade para compreender fenômenos. Um bebê, ainda nos primeiros meses de vida, busca ativamente a fonte de sons que lhe chamam atenção, tateando e muitas vezes levando à boca o que está à sua frente, fazendo perguntas sobre o que observam. Com o tempo, talvez pela correria do dia a dia, nós costumamos a colocar a vida no automático e deixamos de fazer perguntas e investigar, e passamos a aceitar a informação pronta, mastigada. Não checamos a fundo as evidências do que estamos consumindo e acabamos nos limitando a conclusões muitas vezes enviesadas e sem fundamento.
Ao sermos capazes de olhar o mundo ao nosso redor, exercendo curiosidade para aprender, determinação para descobrir a razão daquilo que nos cerca, responsabilidade e crítica sobre o que nos é apresentado, podemos prever ocorrências, minimizar riscos e danos e, pasmem, mudar a vida das pessoas. É justamente essa é a proposta da Educação com base em evidências.
Práticas baseadas em evidências começaram a ser destaque na área da saúde no começo dos anos 90, e apenas recentemente expandiram para outros campos, como é o caso da Educação. A Educação com base em evidências visa otimizar o tempo e os recursos despendidos em suas ações e práticas , tornando mais efetivo e eficaz o processo de ensino e aprendizagem. A Educação com base em evidências tem como objetivo final fazer uso de métodos pedagógicos e iniciativas de gestão provindos de conhecimento acumulado por meio de pesquisas sérias, realizadas com rigor metodológico e baseadas em teorias fundamentadas e, com isso, promover o desenvolvimento pleno dos estudantes , preparando-os para o futuro. Essas pesquisas usam como base tanto o contexto interno do ambiente escolar como elementos externos, como a família e comunidade.
Dada uma realidade como a nossa, cujas taxas de analfabetismo ainda são altíssimas quando comparadas a outros países (projeções indicam que não atingiremos a meta estabelecida pelo PNE), em que a evasão escolar ainda é preocupante (especialmente no Ensino Médio) e casos de bullying e violência escolar têm sido recorrentes (trazendo consequências seríssimas para todos os envolvidos), precisamos agir rapidamente, investigando e desenvolvendo intervenções efetivas e eficazes. Ao nos basearmos em evidências, ou seja, naquilo que foi testado e seus benefícios foram comprovados repetidas vezes, otimizamos o tempo e investimentos, obtendo melhores resultados.
Áreas como a Psicologia, Educação, Neurociências, linguística, entre outras, dedicam anos de estudos para compreender fenômenos presentes no ambiente escolar. Estuda-se, por exemplo, a relação entre o processo de aprendizagem, a trajetória escolar do aluno, saúde mental e também elementos essenciais para o convívio em sociedade como é caso das competências socioemocionais, o pensamento crítico e a criatividade.
Estudos nos orientam no dia a dia escolar e também projetam nosso olhar para o futuro. Já existe conhecimento consolidado, por exemplo, de que o foco exclusivo ou majoritário em habilidades cognitivas não é suficiente para o desenvolvimento pleno do estudante, indicando ser necessário investir em competências como as socioemocionais, a criatividade e o pensamento crítico. Competências como amabilidade estão relacionadas à redução de ocorrências de bullying, e maior engajamento com os outros se associa a menores taxas de evasão escolar. Outro exemplo é a projeção do cenário da Educação brasileira para os próximos 50 anos feita por economistas do Insper , em parceira com o Instituto Ayrton Senna, que nos orienta em relação ao direcionamento sobre investimentos futuros na área. Esses dados contribuem para redesenharmos nossas decisões e revisitarmos políticas públicas, indicando que, ao nos basearmos em evidências, deixamos de apenas consumir informação, mas a consumindo de modo ativo, produzindo e consolidando conhecimento.
Pesquisar é necessário e isso se potencializa na atual formação social que nos encontramos. Estamos vivendo um processo muito intenso de divulgação de informações e tecnologias que eram inimagináveis há 15 anos. Existe um processo de aceleração desse fenômeno e ao estudarmos essa nova configuração, podemos potencializar o processo de desenvolvimento pleno do estudante.
Ana Carolina Zuanazzi é doutora em Psicologia com ênfase em avaliação pedagógica e faz parte do time de evidências do Instituto Ayrton Senna.
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