Dados mostram características que precisam ser mais desenvolvidas e podem ser utilizados para trabalhar intencionalmente a recuperação do aprendizado durante e depois da pandemia
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEDUC-SP) e o Instituto Ayrton Senna apresentaram nesta quinta-feira, 20 de maio, os resultados de um mapeamento inédito sobre a situação socioemocional dos estudantes do 5° e 9° ano do Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio, como parte de um conjunto de iniciativas para promover o desenvolvimento pleno a partir de evidências.
O evento contou com a participação da presidente do Instituto, Viviane Senna, do governador de São Paulo, João Dória, e do secretário da educação de São Paulo, Rossieli Soares.
“A ciência mostra que as competências socioemocionais têm impactos muito relevantes tanto na vida presente do aluno em sua aprendizagem, quanto na sua vida futura. O Estado de São Paulo desenvolveu junto com o IAS uma pesquisa inédita no Brasil e no mundo, que lança luz sobre o papel dessas competências como alavanca para a recuperação da aprendizagem em um cenário tão grave quanto o de pandemia, que representou um grande dano à nossa educação.
O mapeamento mostrou que isso pode ser mais fácil quando podemos contar com um aliado extremamente poderoso como o grupo de socioemocionais”, explica Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna.
Com participação de 110.356 estudantes, o mapeamento foi feito em 3.586 escolas do Estado de São Paulo por meio da aplicação do Instrumento Senna. O Instrumento foi criado pelo Instituto para realizar o monitoramento socioemocional de estudantes brasileiros a partir de um modelo organizativo de 5 macrocompetências e 17 competências socioemocionais.
Ao contrário de avaliações cognitivas, não há uma expectativa de resultado ideal e tampouco respostas certas ou erradas – o instrumento usa uma metodologia de autorrelato, que tem função de autoconhecimento para o estudante e de orientação para os educadores.
Principais achados
Na visão geral, o mapeamento mostra que os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental são os que se consideram menos desenvolvidos em quase todas as competências, chamando atenção para a necessidade de um olhar específico para esta etapa da vida. No 5º ano, as competências de empatia e responsabilidade apresentaram as médias mais baixas no relato dos estudantes, e na 3ª série do Ensino Médio foram as competências de persistência e confiança.
A confiança, aliás, foi a única competência que mostrou uma trajetória preocupante de redução: é mais alta no 5º ano, cai no 9º ano e está ainda mais baixa na 3ª série do Ensino Médio. Essa competência é essencial para diversas conquistas, inclusive para evitar a evasão escolar.
Sob a ótica das competências gerais da BNCC, o mapeamento mostra que os estudantes de todas as séries se perceberam menos desenvolvidos em duas: a competência 8, ligada à autoconfiança, tolerância à frustração e tolerância ao estresse (aspectos que têm forte conexão com a habilidade para lidar com situações que causam raiva e ansiedade, confiar no próprio potencial e ter motivação para alcançar conquistas); e a competência 3, que diz respeito ao interesse artístico e se conecta com o desenvolvimento de um pensamento criativo e inovador e com formas de expressão diversificadas.
Considerando estudos internacionais e outros estudos feitos pelo Instituto Ayrton Senna, os pesquisadores responsáveis pelo mapeamento também selecionaram as competências mais relevantes para certos resultados de vida para identificar a situação socioemocional dos estudantes paulistas dentro de recortes específicos.
Por exemplo, observando apenas o grupo de competências mais relevantes para melhorar o desempenho escolar (Curiosidade para aprender e Determinação), mais de 12% dos estudantes do 5º ano se percebem como pouco desenvolvidos em Curiosidade para Aprender, enquanto 14% dos estudantes do 9º ano e 11% dos estudantes da 3ª série do Ensino Médio se consideram pouco desenvolvidos em Determinação.
Sob o enfoque do pertencimento escolar, que envolve as percepções e expectativas que o estudante tem sobre sua relação com a escola e é fundamental para a motivação e para a redução da evasão, três competências se mostram mais relacionadas: Autoconfiança, Confiança e Iniciativa Social.
Nesse caso, o mapeamento indica que as competências que mais requerem atenção entre os estudantes paulistas são a Confiança e a Autoconfiança. Ambas auxiliam o estudante a agir de forma cooperativa e cuidadosa – contribuindo assim para a qualidade das relações como um todo -, além de ajudar o estudante a lidar com sentimentos de insegurança em relação a suas próprias capacidades. Mais de 27% dos estudantes do 5º ano se percebem pouco desenvolvidos em confiança, índice que sobe para 38% no 9º ano e para quase 40% na 3ª série do Ensino Médio.
Outro resultado de vida importante fala de um tema fundamental do contexto escolar: o bullying. Entender as competências socioemocionais que mais se relacionam com esse problema é uma maneira de nortear trabalhos intencionais sobre os pontos que mais precisam de atenção.
Os dados do mapeamento mostram que, no conjunto de competências socioemocionais relevantes para lidar com a violência escolar, a prevenção de vítimas de bullying pode ser trabalhada a partir do fortalecimento das competências Autoconfiança e Responsabilidade, para o 5° ano, e Autoconfiança e Respeito para o 9° ano e 3ª série. No que diz respeito à prevenção de comportamentos intimidadores, as competências que mais requerem atenção são a Tolerância à Frustração, para todos os anos, Empatia para o 5° ano e Persistência para 9° ano e 3ª série.
E agora?
Os resultados do mapeamento serão apresentados às diretorias de ensino e analisados em workshops com profissionais do Instituto Ayrton Senna, para orientar a leitura dos dados específicos de cada região do Estado, apoiando a criação ou o fortalecimento de estratégias de desenvolvimento locais.
Considerando a importância de conhecer as competências socioemocionais, essa iniciativa também será estendida para um Mapeamento Socioemocional de Educadores, que vai acontecer entre maio e junho de 2021, com objetivo de fortalecer o autoconhecimento e apoiar o desenvolvimento pleno também dos profissionais da educação.
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