Por meio de formações, docentes conhecem, refletem e desenvolvem competências socioemocionais fundamentais para suas demandas e práticas
Como forma de ampliar o apoio às redes de ensino para a implementação da educação integral, criamos uma nova proposta educacional voltada especificamente para o desenvolvimento docente. O projeto “Socioemocional de professores” já está sendo implementado na rede municipal de Teresina (PI) e na rede estadual do Mato Grosso do Sul em versão piloto.
A proposta é dividida em duas linhas: uma de pesquisa científica sobre competências socioemocionais e habilidades estruturantes para o desenvolvimento e atuação profissional docente, e outra de conhecimento aplicado por meio de formação de professores. As formações são híbridas, com momentos presenciais e de práticas on-line, e incorporam, de forma intencional, a dimensão socioemocional como parte crucial para o desenvolvimento pleno do profissional docente, que é o mediador do processo de desenvolvimento integral dos estudantes.
“A educação integral vai além das competências cognitivas, o aluno precisa ser olhado por completo. Esse processo começa pelo professor tomando consciência da importância dessa nova perspectiva, conhecendo melhor a si mesmo, para que tenha melhores condições de desenvolver tais competências com os alunos”, afirma Nelma Lopes, gerente de projetos do Instituto.
Em Teresina, a parceria com Secretaria Municipal de Educação (SEMEC) oferece formação a cerca de 100 educadores. No Mato Grosso do Sul, junto à Secretaria de Estado de Educação (SEDUC), o Instituto oferece formação a aproximadamente 120 docentes e gestores de 12 escolas.
Pesquisas e evidências
A proposta também prevê: a criação, com base em evidências, de um questionário sobre competências socioemocionais de professores brasileiros; a produção e disseminação de conhecimento sobre competências socioemocionais e habilidades fundamentais para o trabalho docente no século 21 e a identificação de correlações entre os aspectos socioemocionais dos professores e o desenvolvimento pleno (cognitivo e socioemocional) dos estudantes.
“Vale destacar, então, que o projeto não tem como objetivos: ser um processo terapêutico para professores, embora compreenda temas como a saúde mental docente em suas pesquisas, delimitar um perfil socioemocional de professor e nem mesmo gerar dados e evidências que possibilitem avaliar uma suposta eficácia do professor a partir de suas competências socioemocionais”, explica Nelma.
Segundo Filip De Fruyt, professor da Universidade de Ghent, na Bélgica, membro do nosso Comitê Científico e especialista em avaliação de personalidade no campo da Psicologia, características dos professores explicitadas de forma indireta na escola, como empatia, acolhimento e incentivo ao pensamento, têm impacto no desempenho dos alunos.
“Professores com competências socioemocionais melhor desenvolvidas podem estar melhor preparados para os desafios diários do trabalho e para implementar programas de desenvolvimento de competências socioemocionais com mais eficiência”, afirma De Fruyt.
Competências socioemocionais
O objetivo das formações é apoiar professores para que reconheçam, reflitam e aprimorem competências socioemocionais e habilidades fundamentais para o exercício da profissão docente atualmente, como autoeficácia, que é a crença em sua própria capacidade de realizar práticas voltadas ao aprendizado dos estudantes; comunicação; gestão de sala de aula etc.
A formação da versão piloto tem foco no conhecimento e no desenvolvimento da autoeficácia, e está estruturada em cinco módulos presenciais, de oito horas cada, que são intercalados com os momentos de práticas on-line. O módulo 1 contempla conteúdos sobre a relação entre a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a educação integral e suas metodologias de ensino, as competências socioemocionais e a matriz de competências desenvolvida pelo Instituto Ayrton Senna, que organiza a ampla variação de competências socioemocionais em cinco macrocompetências: abertura ao novo, autogestão, engajamento com os outros, amabilidade e resiliência emocional.
Esse modelo foi escolhido porque organiza as competências socioemocionais de forma abrangente e, ao mesmo tempo, específica, a partir de estudos sobre competências socioemocionais identificadas e validadas cientificamente por meio de experiências práticas em diversos contextos, localidades e culturas. Além disso, há uma quantidade expressiva e significativa de evidências científicas no Brasil e no mundo que validam a importância desse modelo para diversos resultados alcançados ao longo da vida.
No contexto brasileiro, as cinco macrocompetências foram desdobradas em 17 competências socioemocionais identificadas como importantes de serem consideradas e desenvolvidas nas escolas do país. São elas: determinação; foco; organização; persistência; responsabilidade; empatia; respeito; confiança tolerância ao estresse; autoconfiança; tolerância à frustração; iniciativa social; assertividade; entusiasmo; curiosidade para aprender; imaginação criativa e interesse artístico.
Essas 17 competências socioemocionais, trabalhadas por nós também nas formações do projeto “Socioemocional de professores”, não abarcam todas as existentes, mas compreendem aspectos socioemocionais que estão explicitados inclusive nas 10 competências gerais que constam na BNCC.
Realidade docente
Ainda sobre a divisão da formação do projeto: o módulo 2 aborda o desenvolvimento da comunicação para as práticas de ensino no século 21, considerando a escuta ativa e empática, a atenção plena, os letramentos em diferentes linguagens (materna, corporal, digital, matemática, artística e científica) e o desenvolvimento das competências socioemocionais da macrocompetência Amabilidade (empatia, respeito e autoconfiança).
Já o módulo 3 aborda os temas: relacionamento interpessoal com pares, gestores, estudantes e familiares, aprendizagem colaborativa, comunicação assertiva, mediação de conflitos e o desenvolvimento das competências da macrocompetência Engajamento com os outros (iniciativa social, assertividade e entusiasmo). No módulo 4, os professores têm contato com os temas autoconhecimento, autorregulação emocional, autodesenvolvimento e com práticas para desenvolver a Resiliência emocional (tolerância ao estresse, autoconfiança e tolerância à frustração) e identificar diferentes emoções.
“O módulo 5 da formação é um momento de finalização no qual propomos aos professores a construção de um mapa pessoal de desenvolvimento profissional e o desenvolvimento da Abertura ao novo [curiosidade para aprender, imaginação criativa e interesse artístico]. Além disso, é um momento em que os cursistas avaliam a formação, e, assim, levantamos conteúdos que nos ajudarão a aprimorar a versão piloto”, diz Sarah Morais, gerente da área de Formação do Instituto.
Segundo ela, as formações e o próprio projeto não ignoram o contexto social e profissional do professor no Brasil. “Não estamos propondo uma fuga da realidade e uma hiper-resposabilização do professor sobre o seu desenvolvimento. A ideia é fazer com que os professores tenham ferramentas, inclusive, para identificar condições do ambiente de trabalho que os levam a chegar a determinadas emoções; fazer com, mesmo diante de situações, contextos e conjunturas adversas, os professores consigam pensar em estratégias para que tenham bem-estar e desenvolvam suas atividades da melhor forma”, afirma.
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