Aconteceu na última sexta-feira, 10 de março, o lançamento da Cátedra Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação Educacional no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), no polo Ribeirão Preto. A Cátedra terá Maria Helena Guimarães de Castro, especialista na área e presidente da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (ABAVE), como catedrática, e vai abordar o presente e futuro das avaliações educacionais à luz dos recentes avanços da ciência e dos já existentes diagnósticos nacionais e internacionais. O evento, ocorrido no campus da USP Ribeirão Preto, reuniu líderes educacionais e autoridades locais. Ao discutirem o tema das avaliações educacionais, os convidados abordaram diversos aspectos em relação aos desafios e oportunidades da área, como a recomposição da aprendizagem e saúde mental dos estudantes no pós-pandemia. Também foram debatidas questões como a reformulação de avaliações já consolidadas e a necessidade de diagnósticos mais conectados com a educação do século 21.
Ao se dirigir aos presentes, a presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, ressaltou que é preciso ter um novo olhar para a educação, já que o mundo está em constante mudança, o que gera diversos efeitos para a escola e os estudantes. “Uma pessoa que trabalha na educação precisa ter um olhar para um horizonte temporal de pelo menos 30 anos, porque é para este mundo que vamos entregar o estudante de hoje”, disse. Considerando este contexto, a presidente ressaltou a relevância da Cátedra de Inovação em Avaliação Educacional para os desafios brasileiros atuais. “Temos que olhar a avaliação do país dentro de uma perspectiva histórica de transição civilizacional. Nós não podemos olhar pelo retrovisor, nós temos que olhar para frente, o que é um duplo desafio. Precisamos entender como a gente acompanha a implementação dessas novas competências, que inclusive já estão na Base Nacional Comum Curricular”, defendeu.
Representando o Instituto de Estudos Avançados do polo Ribeirão Preto, o coordenador do departamento, Antônio José da Costa Filho, também ressaltou a importância da cátedra para o momento atual da educação brasileira. “O tema geral da cátedra, avaliação da educação, talvez seja o que tenhamos que ter mais cuidado se queremos delinear políticas públicas num futuro próximo”. Na liderança do departamento, juntamente com a especialista Maria Helena Guimarães de Castro, Antônio será responsável por coordenar as ações da cátedra no âmbito do IEA. Já Guilherme Ary Plonski, diretor do departamento, ressaltou as similaridades entre o Instituto Ayrton Senna e o Instituto de Estudos Avançados da USP. “Ambos têm fundamentos comuns, pois nascemos de sonhos generosos que se materializaram em instituições transformadoras”, destacou. O diretor também valorizou o potencial de inovação da nova cátedra. “Ela tem as condições adequadas para impactar positivamente os caminhos de melhoria da sociedade brasileira, e de ilustrar, para a comunidade da USP, o potencial de inovação que vai além do espaço clássico da inovação tecnológica”, disse.
Uma cátedra para desafios presentes e futuros
Com vasta experiência em avaliação da educação, com passagem em diversos órgãos públicos, a catedrática Maria Helena Guimarães de Castro reforçou a robustez dos sistemas nacionais de avaliação educacional, que apoiaram diversos avanços recentes nas políticas públicas da área. Ao abordar estes avanços, a educadora propôs algumas reflexões: o que deve ser repensado e reformulado após essas experiências? E, depois de tantas evidências geradas, como elas podem influenciar a formulação e monitoramento de políticas públicas?
Como resposta a essas reflexões, Maria Helena Guimarães defendeu que a cátedra deve promover diálogos em relação ao futuro das avaliações, bem como quais são as necessidades de diagnósticos atuais. “Todos os desafios de hoje são gigantescos e, junto com isso, estamos vivendo reformas curriculares e inovações tecnológicas”, refletiu. Entre as mudanças recentes, de acordo com a catedrática, está a necessidade de acompanhar a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e suas 10 Competências Gerais. “Os novos currículos, que já foram implementados em todo o país, devem assegurar a todos os estudantes as aprendizagens essenciais e o desenvolvimento das 10 competências, que envolvem a mobilização de conhecimentos, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana e do pleno exercício da cidadania”, disse.
Para criar caminhos para estes desafios e avançar nas discussões sobre avaliações no Brasil, Maria Helena Guimarães destacou as formas como a cátedra buscará se aproximar dos gestores, órgãos públicos e educadores. “O principal objetivo da cátedra é influenciar políticas públicas com base em evidências. Queremos estimular a articulação entre diferentes atores, como pesquisadores, professores, estudantes, gestores de educação e gestores de instituições do Ensino Superior”. Em relação às ações, a educadora ainda complementou, “a cátedra tem um papel muito relevante na promoção de debates, de minicursos, produção e disseminação de pesquisa, debate sobre estudos nacionais e internacionais e sobre inovações em avaliação educacional. Isso não é uma tarefa simples”.
Outros olhares sobre o tema
Como presidente de um dos mais relevantes órgãos de debate e tomada de decisão da educação no país, o Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Curi defendeu maior sinergia entre a Educação Básica e o Ensino Superior, e ressaltou que isso pode ser alcançado por políticas de formação de educadores que contemplem estes dois universos. O presidente também ressaltou a importância de olhar para a educação sob novas perspectivas e paradigmas. “Precisamos de políticas sustentáveis de acolhimento, continuidade do processo de aprendizagem e recuperação de conteúdos. Precisamos também trazer ambientes com competências e outras características estratégicas, não restritos à sala de aula”, disse.
À frente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep, Manuel Palácios ressaltou que o momento de criação da cátedra é oportuno, já que este espaço poderá contribuir com as discussões e ações já em curso pelo órgão. “Temos, na Educação Básica, desafios muito significativos para os quais a cátedra poderá contribuir. Um exemplo são os instrumentos de avaliação, ao final do Ensino Médio, que servem a diferentes propósitos: a avaliação de competências daqueles que não concluíram a etapa na trajetória regular, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que serve para seleção e certificação, e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), ferramenta que avalia a conclusão do Ensino Médio. Além disso, também temos a BNCC, que define habilidades e conhecimentos que o estudante precisa ter ao final da Educação Básica, e todos esses documentos e instrumentos precisam conversar e observar, em grande medida, os mesmos objetivos”, defendeu.
Contribuindo com o debate, Carlos Gilberto Carlotti, reitor da USP, ressaltou a importância de ter outras organizações e atores da sociedade civil fomentando pesquisas e impulsionando a universidade pública. “Gosto muito do modelo de cátedra que foi criado, pois traz uma visão externa para nossa universidade. Não podemos entender que toda inteligência que exista esteja localizada aqui dentro. Precisamos aprender com outras organizações e trazer pessoas externas que nos desafiam e trazem outras ideias e realidades”, defendeu. O professor Mozart Neves Ramos, que também atua no IEA da USP Ribeirão Preto, à frente da cátedra Sérgio Henrique Ferreira, concordou com o reitor e também ressaltou a relevância de ter Maria Helena Guimarães à frente da Cátedra Instituto Ayrton Senna. “Admiro o reitor da USP e a maneira como ele conduz a maior universidade do país para que possa contribuir cada vez mais com a educação básica do país. Agora com Maria Helena aqui, podemos contar com uma capacidade de resposta muito maior”, disse.
Sobre a cátedra
A Cátedra Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação Educacional no Instituto de Estudos Avançados da USP, no polo Ribeirão Preto, é uma parceria entre as duas organizações que tem como objetivo impulsionar o debate sobre o tema no Brasil. Ela irá fomentar e apoiar a realização de estudos e pesquisas sobre inovação em avaliação educacional, monitoramento e avaliação em políticas da Educação Básica e Superior, além de promover conexões entre diversos atores que estão produzindo este conhecimento e disseminar informações e perspectivas que podem embasar o desenho de políticas públicas. Ela passa a compor passa a compor um ecossistema de inovação, fazendo parte do grupo de cátedras e grupos de pesquisa comprometidos em embasar com ciência as ações e posicionamentos do Instituto.
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