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I Encontro Anual da Rede Nacional de Ciência para Educação discute Ensino Médio

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Agenda Ico 8 set 2020
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Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper foi um dos palestrantes do I Encontro Anual da Rede Nacional de Ciência para Educação.

Nem mesmo pesquisadores da educação brasileira mostram ter a mesma opinião a respeito do novo currículo do Ensino Médio, previsto em lei sancionada em fevereiro pela presidência da república e discutido por diferentes atores sociais para a conclusão do texto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) relacionado ao último ciclo da Educação Básica. Cientistas concordam que o atual formato está defasado e que a implementação de nova proposta deve ser melhor discutida, mas, ao mesmo tempo, divergem sobre a escolha pelo ensino técnico como garantia de sucesso profissional e melhor aproveitamento do Ensino Superior.

O tema esteve presente nas palestras de Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (CEIPE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Simon Schwartzmann, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), e Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, realizadas recentemente como parte da mesa “Ciência para educação e políticas públicas”, inserida no I Encontro Anual da Rede Nacional de Ciência para Educação em São Paulo.

Para Ricardo Paes de Barros, há necessidade de deixar os jovens serem protagonistas da própria aprendizagem e terem liberdade de escolha nesse processo, mas é preciso considerar que a maior parte deles vai trabalhar em profissões que ainda não existem. “Então, formá-los tecnicamente para uma coisa que a gente nem sabe qual vai ser é impossível […] Temos que mudar, mas a questão é como interpretamos essa mudança. Precisamos, sim, de uma mudança para a flexibilidade e para a escolha, mas não de uma segmentação dos caminhos educacionais”, diz, destacando que “o Brasil ainda precisa muito que seus jovens cheguem ao Ensino Superior”.

“Ter um ambiente que estimule drasticamente o protagonismo do jovem é fundamental em qualquer escola de Ensino Médio no mundo […] Mas acho que, nesse momento, a proposta do novo Ensino Médio não fala bem com a busca pelo desenvolvimento pleno dos estudantes. Porém, estou aberto a escutar os idealizadores desse ensino mais segmentado e entender como essas coisas dialogam. Tudo depende de como nós vamos implementar isso”, completa.

‘Crise começa bem antes’

Ao falar sobre o tema “Desafios da educação e a política pública”, Cláudia destacou os dados mais recentes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, sigla em inglês), que mostram que, apesar de ser a 8ª maior economia das 70 nações que permitiram a divulgação de seus resultados no exame, o Brasil se encontra na 63ª posição em Ciências, no 59ª lugar em Leitura e no 66º posicionamento em Matemática, considerando a avaliação de estudantes matriculados a partir do 7º ano do ensino fundamental na faixa etária dos 15 anos. “Então, quando falamos da crise do Ensino Médio, temos de lembrar que ela começa bem antes dessa etapa do ensino”, avalia a professora, pontuando que “a nova lei do Ensino Médio está correta em acabar com a fragmentação dos saberes”.

Na palestra de tema “A transição da escola para o mercado de trabalho no Brasil”, Schwartzmann afirmou que a “educação secundária no Brasil está fortemente enviesada para a preparação para o ensino superior”. Porém, segundo ele, hoje em dia, o diploma de ensino superior não garante mais um alto padrão de vida, e em muitos cursos de graduação metade dos ingressantes não chega ao final. O pesquisador lembra ainda que, apesar de o acesso às faculdades e universidades ter aumentado, apenas 20% das pessoas têm curso superior no país.

Considerando o cenário, Schwartzmann também tangenciou questões sobre o novo Ensino Médio. Segundo ele, essa etapa do ensino gera uma corrida que se configura em “se preparar para o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] e tentar entrar na universidade”. “Mas muita gente abandona isso no meio do caminho”, afirma. “O modelo tradicional cria uma camisa de força, tenta colocar todo mundo na camisa de força, que é o modelo único, e um grupo pequeno consegue caminhar e a maioria fica pelo caminho e não consegue”, afirma.

“Se queremos desenvolver todos com a mesma coisa, não desenvolvemos ninguém, porque cada um pega um pouquinho de cada coisa e ninguém fica com nada. O Ensino Médio tem de ser complexo, tem de oferecer diferentes alternativas para pessoas diferentes, pela vocação, pelo interesse ou por necessidade; alguns precisam trabalhar logo, outros não precisam. É preciso atender públicos diferentes”, completa.

Busca pelo desenvolvimento pleno

Na palestra sobre “O que a ciência pode fazer sobre a educação”, Paes de Barros também destacou que documentos como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e o The Global Goals for sustainable development (“Os objetivos globais para o desenvolvimento sustentável”, 2017), que estabelece metas para a educação até 2030, falam sobre o direito à educação plena, mas ainda são pouco precisos quanto à qualificação disso.

“Sabemos que as pessoas se desenvolvem de maneiras diferentes. Mas o que exatamente se deve esperar de um jovem ao final da Educação Infantil ou ao final do Ensino Médio? Acho que a ciência tem a alguma coisa a dizer sobre isso”, diz. “Ninguém se desenvolve plenamente, mas é possível ensinar o jovem a buscar o desenvolvimento pleno”, completa.

Nesse sentido, o economista destaca iniciativas como a do site “Movimento pela Base Nacional Comum”, que associa quais das 10 competências previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) devem ser desenvolvidas em cada ano escolar da Educação Básica.

Referindo-se a bons exemplos de busca pelo desenvolvimento pleno dos estudantes de Ensino Médio, o pesquisador também mencionou o trabalho feito no Colégio Estadual Chico Anysio (CECA), localizado no Rio de Janeiro, apoiado pelo Instituto Ayrton Senna e onde é implementada a Educação Integral em tempo integral. Segundo Paes de Barros, estudantes que permaneceram nessa escola ultrapassaram em 49 pontos no Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro (SAERJ) os alunos que foram para outras instituições.

“Nossas soluções não precisam vir de outros países. Basta olharmos para as práticas bem-feitas aqui no Brasil e copiá-las, dando suporte para que isso aconteça […] O CECA é uma metodologia pedagógica, dá para implementar em todo lugar, mas é preciso formar os professores, que são de dedicação exclusiva para a escola, e toda a escola tem de topar fazer acontecer”, afirma o economista.

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Instituto Ayrton Senna Organização sem fins lucrativos comprometida com a educação

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