Como apoio para o desenvolvimento de competências como comunicação, pensamento crítico e resolução de problemas, escolas abrem espaço para análise e qualificação de projetos de pesquisa e intervenção
A partir de uma visão de educação integral, escolas podem estimular os estudantes a serem protagonistas na construção de sua aprendizagem e no desenvolvimento de competências. É o que sugere uma proposta do Instituto Ayrton Senna para o Ensino Médio que conta com diversas estratégias para isso. Por meio da realização de dinâmicas semelhantes à de uma banca de qualificação, por exemplo, os estudantes apresentam projetos de pesquisa ou de intervenção, com argumentos e planos de ação. Em seguida, recebem análises e sugestões de melhorias vindas de outros colegas, dos professores, da equipe de gestão escolar e, algumas vezes, até de profissionais de fora da escola, como pesquisadores universitários.
Em Santa Catarina, onde a Secretaria Estadual de Educação e o Instituto desenvolvem uma parceria para o Ensino Médio Integral em Tempo Integral (EMITI), o mês de setembro foi o momento para cerca de 3,5 mil estudantes participarem de dinâmicas como esta – chamadas de Conselho de Projetos. Entre as temáticas apresentadas, estavam pesquisas sobre preconceito nos esportes, hábitos saudáveis para prevenção de doenças, reestruturação de bibliotecas, atividades de apoio e motivação para grupos de idosos, produções culturais para divulgar ações da comunidade escolar no Youtube, entre muitas outras.
“Às vezes em projetos a gente tem ideias talvez surreais, eu vejo esse fenômeno de alunos querendo fazer projetos grandes demais ou absurdos, ou têm uma ideia boa, mas não bem desenvolvida ainda… ter essa segunda visão e ter feedback dos professores sobre o que pode melhorar, já amplia muito a visão e pode trazer projetos melhores”, contou a estudante Letícia Morelatto, do primeiro ano do Ensino Médio da Escola de Educação Básica Cordilheira Alta, na região de Chapecó (SC). “A experiência no conselho de projetos foi muito boa, tive vários aprendizados sobre como avaliar uma apresentação, os pontos importantes de uma pesquisa, achei muito legal”.
Já no terceiro ano, a estudante Letícia Variani consegue fazer um balanço sobre o papel do conselho de projetos em sua formação. “Quando apresentei pela primeira vez para a banca eu estava com medo, nunca tinha feito nada parecido na minha vida! Deu um frio na barriga, mas foi muito bom e contribuiu bastante, o conselho deu dicas muito importantes para o desenvolvimento do projeto”, contou. “Eu não era uma aluna que se comunica direito com as pessoas. Depois que entrei para o Ensino Médio percebi que mudou completamente isso em mim, tem muitas atividades que proporcionam que a gente se desenvolva”.
De acordo com o material de apoio distribuído aos professores das escolas parceiras do EMITI, o conselho de projetos tem a tarefa de realizar a interlocução com os times e contribuir para que todos os projetos cumpram seus objetivos, estejam focados no bem comum, interfiram positivamente no contexto escolar e gerem aprendizagens significativas para os estudantes. A orientação é que no conselho estejam representados professores, membros da equipe diretiva e pedagógica, e estudantes, com abertura para convite a profissionais externos à escola. Todos os membros recebem informações antecipadas para poder avaliar a proposta de cada time com base no planejamento real dos estudantes.
“A gestão escolar tem por prioridade oferecer um momento onde o aluno possa estar bem à vontade para apresentar sua proposta; a intenção é dar apoio, o momento onde vamos corrigir ou qualificar os projetos, dá tempo de ajustar algo que não está bem alinhado”, explicou o diretor de Cordilheira Alta, Olivandro Marino. “Cada um com sua expertise contribui com os projetos da melhor forma possível e com certeza a prioridade de todos é promover o processo de aprendizagem a partir do projeto, que o aluno que está desenvolvendo o projeto realmente veja sentido nisso.”
De acordo com professores, o formato do conselho estimula a participação dos jovens. “Os alunos planejam muito esse momento de convencer o conselho de que seu projeto é relevante, e ver outros estudantes também ajudando a dar sugestões é um diferencial”, comentou a professora de Química Shana Aline Sitta. “Todos se mobilizam bastante, e também para engajar a comunidade, mesmo fora da escola. Eles fazem entrevistas, ações de mobilização, até a prefeitura já está acostumada a receber nossos estudantes”, contou. Para uma das coordenadoras da parceria em Santa Catarina, Adriana Bastiani, mais do que avaliar o tema de um projeto, o importante é analisar o que ele representa para os alunos. “Alguns temas podem ser simples, mas trazem significado muito importante para a comunidade, podem mudar atitudes, em algumas bancas vemos presença dos pais, você vê envolvimento de muitos com essa proposta”, afirmou.
Em Santa Catarina, esta proposta de educação integral para o Ensino Médio está presente em 31 escolas, e a orientação das equipes é que em todas seja realizado o conselho de projetos, dado que esta é um componente estruturante e não pontual da proposta. Como em cada escola pode haver times que estejam em momentos diferentes da realização de um projeto de pesquisa ou de intervenção, a organização desse momento fica a cargo de cada uma, com autonomia para adequar ao seu calendário. A parceria entre o Instituto e a Secretaria de Educação completa agora três anos, e pela primeira vez no Estado serão formados estudantes que passaram pelo ciclo completo de educação integral no Ensino Médio.
EDUCAÇÃO POR PROJETOS
A educação por projetos é considerada uma das metodologias que proporcionam uma educação integral. Por meio dela, os estudantes têm oportunidade de atuar em times para identificar as temáticas que gostariam de conhecer mais, ou os problemas em sua escola ou comunidade sobre os quais gostariam de intervir.
Quando praticada nas escolas, a educação por projetos é uma oportunidade para todos os estudantes colocarem seus conhecimentos em ação e, a partir dela, passarem a pesquisar novos conhecimentos, interagir com pares e educadores para resolver problemas. Dessa forma, o objetivo e o conteúdo de um projeto pode variar de acordo com os interesses dos estudantes, com enfoques bastante variados, tanto para promover pesquisas estruturadas quanto para apoiar a construção do projeto de vida dos estudantes.
Mesmo contemplando uma variedade temática, enquanto metodologia a educação por projetos têm alguns pontos em comum, no contexto da educação integral. É importante, por exemplo, que todas sejam concretizadas no contexto curricular (como parte do percurso formativo do estudante, e não um complemento), e que estejam embasadas na valorização do potencial de todos os estudantes em propor e realizar iniciativas para a resolução de problemas, ganhando autonomia ao longo do percurso.
Nas propostas do Instituto Ayrton Senna, a metodologia é praticada de forma estruturada em cinco etapas, todas com intencionalidade pedagógica: 1) Mobilização; 2) Iniciativa (desenho e tomadas de decisão sobre o que será realizado); 3) Planejamento (organizar papeis e atribuições, prazos e ações); Execução; 5) Apropriação de resultados e generalização de aprendizados.
Por permitir a aprendizagem através de vivências, a educação por projetos mobiliza os estudantes em suas dimensões cognitiva e socioemocional, e demanda dos professores uma postura de alta expectativa e confiança sobre os estudantes, abertura para o erro e reciprocidade. Essas características são parte de uma proposta de educação integral.
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