No dia 18 de novembro, o jornal O Estado de S. Paulo promoveu evento no Museu do Ipiranga, em São Paulo, para debater os desafios da educação brasileira. Chamado de “Reconstrução da Educação”, o encontro teve como foco discutir os cinco eixos prioritários para uma educação pública de qualidade, essencial para a formação do cidadão e desenvolvimento do país.
Silvia Lima, gerente de Advocacy do Instituto Ayrton Senna, participou de mesa que abordou o tema da Formação de Professores, que refletiu sobre os desafios para o desenvolvimento de educadores e a atratividade da profissão. Silvia, especialista em formação de professores, dividiu as discussões da mesa com Fernando Abrucio, pesquisador e professor da FGV-SP e Haroldo Corrêa Rocha, líder do Movimento Profissão Docente e membro do Conselho de Gestão da Educação do Estado de São Paulo, sob mediação da jornalista do O Estado de S. Paulo, Renata Cafardo.
“Apagão” de professores
Durante o debate, a especialista em formação de professores discutiu o quanto a desvalorização da carreira docente ameaça provocar um “apagão” de professores na educação básica, com falta de 235 mil educadores projetada para 2040. “Isso se dá por diversos motivos, como o desinteresse dos jovens em fazer licenciatura, ou os desafios encontrados no dia a dia, o que resulta em abandono da área, além de aposentadorias”, disse Silvia.
Para Rocha, a educação brasileira precisa ir além na formação de docentes. “O Brasil só vai melhorar a aprendizagem se tiver foco nos professores. Ele deve ser visto como um profissional que precisa ter competências desenvolvidas e ter acesso a cursos profissionalizantes que possibilitem esse desenvolvimento”.
“O professor é a figura-chave da educação”, diz Abrucio. Para o pesquisador da FGV, existem diversos pontos que dificultam o trabalho do professor no Brasil, entre eles a falta de incentivos, não somente financeiros, mas também de qualificação; atratividade; qualidade da formação inicial; novo modelo pedagógico; governança e carreira.
Licenciaturas em EAD
Desafios dos cursos EAD de licenciaturas também devem ser levados em consideração, pois muitos professores não chegam a ter experiência prática de sala de aula, o que desencadeia um desempenho ruim e abandono da profissão. Segundo a especialista em formação de professores, políticas públicas de incentivo à formação docente podem ser positivas, mas não devem ser consideradas como única solução.
“A reconstrução da educação passa pelo professor, que precisa ser considerado, cuidado nas suas necessidades de formação, em especial a formação inicial em sala de aula, na saúde mental, e na relação com os estudantes”, afirmou Silvia.
Para Rocha, a fase de formação dos professores no Brasil encontra-se em “estado crítico”, e defende que as redes públicas assumam parte da responsabilidade por essa situação, dando mais valor aos cursos de pedagogia existentes e garantindo uma formação abrangente para os professores. “O professor precisa ir além de saber química, por exemplo. Ele precisa saber ensinar química”, explica.
Abrucio destacou a importância dos primeiros cinco anos de carreira para fortalecer a qualidade da formação dos professores e sua atuação em sala de aula. Ele cita que, em alguns países, existem políticas de incentivo à professores que estão próximos à aposentadoria para que permaneçam por mais tempo e orientem os professores recém-chegados.
Revisão dos salários
A especialista do Instituto Ayrton Senna também abordou a questão salarial dos docentes. “Um bom salário garante que o professor não precise trabalhar em várias escolas, o que resulta em desgaste de energia e prejuízos na saúde mental”, afirma.
Silvia reforça que a revisão dos salários é fundamental para atrair mais professores, apesar de não ser a única forma de impulsionar a atratividade da carreira docente. “Se tivesse um salário mais adequado, podendo ficar em apenas uma unidade escolar, tendo tempo para seus processos de formação e preparação de aula, espaços de trocas. Pensar em remuneração é um atrativo e tornar esse professor reconhecido e valorizado”, finaliza.
O aumento do reconhecimento e a melhora das condições de trabalho também precisam ser levados em conta nas políticas, de acordo com a fala de Rocha. “O professor precisa ter garantia e segurança para ter progresso”. O líder do Movimento Profissão Docente afirma que isso se inicia desde a formação, já que a maior parte dos estudantes de pedagogia precisam trabalhar em outras áreas para pagar os estudos. Para Abrucio, o Brasil precisa de um sistema docente sólido, que consiga selecionar e receber os profissionais oferecendo condições melhores.
Atuação em prol do desenvolvimento dos educadores
O Instituto Ayrton Senna trabalha com a formação de educadores como parte fundamental de todos os seus projetos e iniciativas. Um destaque para esse compromisso com o desenvolvimento de educadores é a plataforma digital Humane, com foco no desenvolvimento de professores por meio de cursos, jornadas e conteúdos. Cada educador pode ter acesso a experiências formativas gratuitas e online, adequando o seu momento de desenvolvimento à sua própria rotina. Ao longo dos anos, o Instituto, em parceria com redes de ensino, acumulou diversas experiências na formação de educadores. Agora, a plataforma Humane oferece acesso a metodologias e instrumentos baseados em evidências para ampliar o impacto dessas práticas entre mais educadores.
Outra frente para o desenvolvimento de educadores implementadas pelo Instituto são os estudos sobre o socioemocional dos docentes. Os estudos das habilidades socioemocionais dos professores reconhece a importância dessas competências na prática docente e no desenvolvimento dos estudantes. Além de criar um modelo de habilidades específico para professores, o Instituto também desenvolveu uma jornada de desenvolvimento online gratuita na Humane, focada em fortalecer competências como autorregulação emocional, conexão com o outro, e inventividade.
Essa jornada socioemocional de professores, disponível na Humane, foca na identificação e aplicação de uma matriz de competências específicas para professores, reconhecendo que, além dos conhecimentos e práticas instrucionais, os educadores também utilizam habilidades socioemocionais no seu dia a dia. Essas competências influenciam tanto a carreira e a saúde emocional dos professores quanto o desenvolvimento integral dos estudantes.
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