É consenso no meio acadêmico e científico que a formação inicial de professores da educação básica não os prepara plenamente para as intensas e rápidas transformações da sociedade contemporânea. A complexidade e diversidade de situações que esses profissionais enfrentam em sua rotina de trabalho e o compromisso com a formação integral dos estudantes exigem dos professores conhecimentos técnicos e específicos, mas também um amplo conjunto de competências. Quando desenvolvidas, essas competências contribuem de modo positivo tanto para a prática do professor com seus estudantes, quanto para lidar com sentimentos como incerteza, culpa, ansiedade e frustração, trazendo benefícios para o âmbito profissional e também em outras dimensões da vida. O novo material do Instituto Ayrton Senna, disponibilizado a todo o público, visa a contribuir com evidências para auxiliar a formação de educadores.
O material parte do princípio de que incluir estudos e práticas para o desenvolvimento de competências socioemocionais na formação inicial e continuada de professores pode ser decisivo para sua atuação e realização profissional. Há muitos estudos sobre as competências socioemocionais do estudante e como avaliá-las, mas o mesmo ainda não acontece em relação às competências socioemocionais dos professores, sobre as quais ainda não há uma compreensão aprofundada ou articulada com as competências técnicas, já analisadas há décadas.
De acordo com Gisele Alves, líder da especialidade de Evidências do Instituto Ayrton Senna, a literatura internacional e nacional disponível acerca das competências socioemocionais de educadores e das práticas docentes relevantes para a profissão ainda possui lacunas que precisam ser preenchidas. “Os estudos são insuficientes para congregar consensos e avançar uma agenda propositiva de maior apoio e valorização desses atores que exercem um papel primordial no desenvolvimento pleno dos estudantes. Como planejar ações que lhes deem suporte sem saber quais são os aspectos mais importantes a serem observados?”, afirma ela.
Neste ano, milhares de educadores tiveram que se abrir para novas experiências, demonstrar criatividade, tolerância à frustração, entre tantas outras competências, passando por processos informais ou ainda pouco estruturados de formação sobre esse tema o que reforça ainda mais a urgência de o país avançar no compartilhamento de informações e conhecimentos sobre o que são e quais são as competências socioemocionais e instrucionais que fazem a diferença para o fazer docente.
Considerando essa lacuna, o Instituto Ayrton Senna vem desenvolvendo, desde 2016, uma agenda de pesquisa para identificar, com base em evidências, quais são as competências estruturantes para o desenvolvimento profissional docente, tanto em aspectos socioemocionais quanto instrucionais, e compreender sua relação com o aprendizado e o desenvolvimento pleno dos estudantes.
Além de um programa abrangente de investigação da literatura existente sobre o tema, os pesquisadores do eduLab21, centro de pesquisas do Instituto, examinaram modelos teóricos sobre competências para o século 21, analisaram as características da profissão docente em sistemas de classificação de ocupações e, por fim, realizaram uma pesquisa empírica on-line sobre características dos professores que mais influenciaram a vida de seus estudantes.
Esses estudos permitiram a criação de uma taxonomia de competências relevantes para o desempenho da profissão docente, combinando qualidades instrucionais e competências socioemocionais a partir de evidências científicas.
A proposta de taxonomia evoluiu ao longo da pesquisa, passando de 13 competências socioemocionais e qualidades instrucionais para um total de 24. “Iniciamos com uma proposta de competências e, no decorrer da pesquisa, tivemos um aprimoramento conceitual da taxonomia”, explica Karen Teixeira, gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna, para quem esse aumento de especificidade conceitual auxilia a elaboração de definições mais precisas e favorece a avaliação. A ideia é que essa taxonomia esteja em constante construção e seja atualizada à medida que mais evidências empíricas são coletadas, como, por exemplo, por meio de pesquisas on-line.
A pesquisa envolveu a criação de uma ferramenta de avaliação com o objetivo de fornecer subsídios para políticas mais personalizadas de formação docente focadas nas competências socioemocionais. O instrumento foi desenvolvido pelo comitê científico do Instituto Ayrton Senna, e já foi aplicado em mais de 2.500 professores das redes de ensino de diferentes estados, como Mato Grosso do Sul, Bahia, Santa Catarina, São Paulo, Tocantins, Amazonas, Ceará e Piauí, que contribuíram com o desenvolvimento dos estudos de construção e investigação das qualidades do instrumento para avaliação de competências relevantes ao fazer docente.
Para comunicar os resultados já obtidos por meio de seus estudos, o Instituto Ayrton Senna sistematizou em cinco capítulos essa trajetória de pesquisa e apresenta a taxonomia das competências socioemocionais de educadores no documento lançado agora. “O Instituto Ayrton Senna promove estudos que contribuem para preenchermos as lacunas da ciência e assim, contribui para ações baseadas em evidências envolvendo esse público. Agora temos o prazer de comunicar alguns de nossos principais avanços por meio deste e-book”, completa Gisele.
Mas a equipe de pesquisadores do Instituto seguirá atenta a essa temática. Os próximos passos são ações de curto e médio prazo, que envolvem três estudos: aperfeiçoamento do instrumento de medida; investigar a relação entre as competências socioemocionais dos professores e a proficiência acadêmica e competências de estudantes; e, por fim, analisar as trajetórias de desenvolvimento socioemocional em programas de formação de professores.
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