Em artigo publicado no jornal Correio Braziliense (DF), diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos, aborda a internacionalização das universidades.
Por Mozart Neves Ramos e José Fernandes de Lima
(Opinião – Correio Braziliense – 05/04/2018)
O ensino superior no Brasil cresceu significativamente nos últimos anos. Contribuíram para esse crescimento, entre outros fatores, a reorganização das diretrizes curriculares para o ensino superior e os investimentos da iniciativa privada. A expectativa é que o país possa cumprir a meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE), o que significa ter 33% dos jovens da faixa etária de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior até 2024. Hoje são 18,1% – além de estarmos muito distantes dessa meta, esse percentual é muito baixo quando comparado ao de países desenvolvidos.
Ao lado da necessidade de ampliação das matrículas, destaca-se também a premência de inovar os procedimentos com vistas ao atendimento das demandas da sociedade. Dentre os desafios que se apresentam, cabe destacar a ampliação da troca de experiências e a aquisição, por parte dos estudantes, de competências e habilidades para um mundo do trabalho cada vez mais dinâmico, em decorrência das descontinuidades tecnológicas cada vez mais frequentes. Uma pesquisa do governo americano mostrou que nenhuma das dez profissões que mais empregaram em 2009 existia em 2004. Ou seja, estamos formando jovens para profissões que nem sequer ainda existem!
É com base nesse cenário que os países desenvolvidos e as empresas de maior poder tecnológico estão procurando atrair os melhores e mais competentes profissionais – os mais habilitados para lidar com esse dinamismo, sejam eles oriundos de qualquer país ou região. O crescimento do número de empresas transnacionais em todo o mundo vem contribuindo para o aumento dessa procura, sempre na perspectiva de um novo perfil de profissional qualificado para atuar em projetos de âmbito global. Dominar o inglês e ter uma formação multicultural são alguns dos elementos-chave nesse processo de seleção, além de uma formação acadêmica sólida.
Esses fatos têm afetado a organização do ensino superior em todos os países, mesmo que de formas diferentes. A maneira como os governos organizam seus sistemas de ensino superior pode nos dizer muito sobre seus objetivos econômicos, sociais e políticos e sobre seus planos para alcançar tais objetivos. A revolução por que passa o ensino superior no planeta é multifacetada, mas as suas características podem ser agrupadas em quatro grandes eixos:
1. há um crescimento do retorno do investimento em ensino superior quando comparado ao investimento no ensino básico;
2. cada vez mais os governantes passam a considerar o ensino superior como um bem privado, em detrimento de entendê-lo como um bem público. Hoje, no Brasil, as matrículas no ensino superior privado representam 75% do total;
3. amplia-se o uso da tecnologia da informação com o objetivo de atingir nova parcela da população, notadamente aquela formada por trabalhadores que desejem voltar a estudar;
4. acentua-se o processo de internacionalização e globalização dos sistemas de ensino superior. Atualmente, milhões de estudantes já estudam fora de seus países de origem. Foi criado o conceito de universidade de classe mundial com base no modelo das principais universidades americanas.
No Brasil, esse incentivo foi iniciado pela Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que passaram a estimular a internacionalização dos programas de pós-graduação e pesquisa. Os órgãos responsáveis pela regulação e avaliação do ensino superior passaram a adotar como critério avaliativo os números da internacionalização. Em consequência, muitas universidades ampliaram seus investimentos para o envio de professores e estudantes ao exterior e passaram a organizar sua estrutura para o recebimento de estudantes e pesquisadores estrangeiros.
Não obstante esse processo esteja mais adiantado nas instituições públicas, algumas universidades privadas têm se empenhado significativamente nos seus processos de internacionalização. Nesse particular, cabe destacar, a título de exemplo, os investimentos que vêm sendo feitos pela Universidade Tiradentes, localizada no Nordeste do Brasil, mais precisamente no estado de Sergipe. Após criar o Tiradentes Institute, em Boston, em parceria com a Universidade de Massachusetts (UMass), nos Estados Unidos, ela começa agora a ser certificada pela Associação das Universidades Europeias (AUE), com vistas ao desenvolvimento de padrões de qualidade semelhantes aos das universidades do continente europeu.
Atrair e fidelizar jovens para o ensino superior, num cenário globalizado e cada vez mais competitivo, passa pela internacionalização e pela capacidade de inovar. As instituições de ensino superior precisam se moldar a este novo cenário mundial para que possamos nos equiparar, num futuro próximo, aos países desenvolvidos.
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