Por Mozart Neves Ramos
(Correio Braziliense ‐ Opinião ‐ 02/03/2017)
Cingapura é um pequeno país asiático de apenas 719 km², 30 vezes menor do que Sergipe — o menor estado brasileiro, com uma população de 5,4 milhões. Sob o domínio inglês, era apenas uma pobre colônia, tendo se tornado estado independente em 1965. Desde então, vem registrando posições de liderança no mundo em várias áreas. Trata-se do quarto principal centro financeiro do mundo; o terceiro maior centro de refinação de petróleo; seu porto é o quinto mais movimentado do planeta; por isso, o Banco Mundial considera Cingapura o melhor lugar do mundo para fazer negócios. Mas esse reconhecimento econômico chegou agora à educação, com os últimos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) — a mais importante avaliação internacional de educação, organizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Para compreender como Cingapura chegou a essa posição de liderança no campo da educação, um dos caminhos é ler a recente e oportuna entrevista do ex-diretor do Instituto Nacional de Educação de Cingapura, Lee Sing Kong, concedida a Renata Cafardo, publicada na Folha de S.Paulo, em 16 de janeiro deste ano. Esse cingapuriano de 65 anos liderou mudanças fundamentais na formação de professores. Alguém pode dizer que se trata de um país pequeno em termos de território, e assim é bem mais fácil fazer mudanças estruturais — o que é verdade —, mas creio que o cerne da questão está em pensar grande, em ter coragem e foco para fazer as mudanças necessárias.
Enquanto o Brasil ainda luta para ter um currículo que explicite os direitos de aprendizagem que todo aluno deve ter — ou seja, o que precisa ser aprendido por cada aluno a partir da construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), focando prioritariamente apenas o cognitivo —, Cingapura olha para a frente. O foco é formar alunos que sejam relevantes para o século 21. Isso significa introduzir na formação de professores e alunos as novas habilidades essenciais para se viver neste século: colaboração, pensamento crítico, criatividade e comunicação, como disse o professor Kong. Para isso, Cingapura criou as chamadas salas de aula colaborativas. O Instituto Ayrton Senna vem apostando nesse caminho com uma metodologia que vem sendo implantada no ensino médio nos estados de Santa Catarina e do Rio de Janeiro, em parceria com as secretarias de Educação e contando com o apoio da P&G, Instituto Natura, BID, Capes/MEC e Movimento Santa Catarina pela Educação. A BNCC, portanto, não pode nascer velha. Nota-se que o Ministério da Educação (MEC) tem essa preocupação, mas é preciso que agora ela se configure na análise do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Outro passo importante dado por Cingapura foi atrair jovens para a carreira do magistério, equiparando os salários dos professores ao dos engenheiros. Sem bons professores, bem formados e com uma carreira promissora, não iremos muito longe. Cingapura criou a figura do professor pensador (thinking teacher), que sabe como se adaptar ao novo e como reconfigurar a sala de aula. Ele precisa escolher o melhor jeito de ensinar cada conteúdo. Trinta e cinco por cento do tempo de formação do professor é dirigido para a prática da sala de aula, tendo como supervisores os chamados professores seniores. Os alunos entendem a relevância do estudo, e os professores trabalham em sala de aula problemas reais, dando significado à aprendizagem. Por isso, os alunos de Cingapura estão entre os mais motivados do mundo para estudar!
Segundo Lee Sing Kong, a chave do sucesso está no alinhamento de todos os componentes do sistema educacional, centralizados no currículo, na formação e na avaliação. Reconhecendo essa revolução que ocorreu na educação de Cingapura, o Movimento Santa Catarina pela Educação prepara uma missão para ir àquele país em maio próximo.
Como disse Lee Sing Kong, o objetivo da educação de Cingapura não é ser bem avaliada pelo Pisa. O que importa é educar nossos alunos para serem relevantes no século 21. Portanto, trata-se de pensar grande, de olhar para onde aponta o farol, e não simplesmente de olhar para o retrovisor.
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