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Relatório da OCDE mostra relações entre competências socioemocionais, aprendizagem e saúde mental de estudantes de 9 países

Pesquisa foi traduzida para o português pelo Instituto Ayrton Senna.

10 MIN
27 maio 2022
Instituto Ayrton Senna Instituto Ayrton Senna

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A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou relatório com os resultados de sua Pesquisa sobre Competências Socioemocionais, que investigou as habilidades de estudantes de 10 e 15 anos de nove países. Com o objetivo de ampliar o debate sobre o tema e os avanços da educação integral no Brasil, o Instituto Ayrton Senna acaba de divulgar a tradução desse estudo em língua portuguesa. A publicação ‘Além da Aprendizagem Acadêmica – Primeiros Resultados da Pesquisa sobre Competências Socioemocionais’, Já disponível para download gratuito no site do Instituto e aponta para possíveis caminhos para o fortalecimento socioemocional dos estudantes.

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 A Pesquisa sobre Competências Socioemocionais avaliou as condições e práticas que promovem ou dificultam o desenvolvimento de socioemocional de crianças e jovens. O estudo é um dos primeiros esforços internacionais para criar um repositório de informações sobre as competências socioemocionais dos estudantes, apoiando líderes e profissionais da educação a desenhar políticas que fortaleçam essas habilidades. De acordo com os achados do estudo, as competências socioemocionais são a base do bem-estar psicológico e do desempenho acadêmico dos estudantes. Portanto, é necessário nomeá-las, torná-las visíveis e comparáveis, possibilitando que sejam entendidas pelos educadores, desenvolvidas por meio de propostas de educação e integradas à política educacional de redes de ensino.

Os resultados da pesquisa foram compilados a partir do relato dos próprios estudantes sobre o seu desenvolvimento, assim como as respostas de pais, responsáveis, professores e diretores acerca do socioemocional dos jovens. Abraçando uma grande diversidade de culturas, o estudo foi conduzido em dez cidades, distribuídas em nove países diferentes: Bogotá e Manizales (Colômbia), Daegu (Coreia do Sul), Helsinque (Finlândia), Houston (Estados Unidos), Istambul (Turquia), Moscou (Rússia), Ottawa (Canadá), Sintra (Portugal) e Suzhou (China). O relatório também documentou como as competências socioemocionais dos estudantes se relacionam com aspectos como nível socioeconômico, gênero e histórico de migração.

O estudo investigou as competências de Abertura ao Novo, Autogestão, Engajamento com o Outro, Amabilidade e Resiliência Emocional, integrantes dos Cinco Grandes Fatores, matriz de competências socioemocionais também trabalhada pelo Instituto Ayrton Senna em suas propostas educacionais. Além de tais habilidades, também foram investigadas a autoeficácia e a motivação para realização acadêmica, que também têm forte relação com as competências socioemocionais. A motivação, por exemplo, se refere à tendência do estudante em estabelecer padrões elevados para si mesmo e trabalhar para alcançá-los, o que tem estreita relação com a abertura ao novo e autogestão. A autoeficácia, por sua vez, se relaciona com a crenças dos indivíduos em sua capacidade de executar tarefas e atingir objetivos.

Entre os principais destaques, a pesquisa revelou um padrão de queda nas competências socioemocionais dos estudantes conforme eles entram na adolescência, e destacou quais habilidades são mais relevantes para o desempenho escolar e como os jovens têm percebido e relatado os sintomas relacionados à sua saúde mental e bem-estar psicológico. A seguir, confira cada um desses recortes de análise mais detalhadamente:

Resultados

Visão geral das competências socioemocionais

Em um mundo cada vez mais complexo e dinâmico, a importância das competências socioemocionais tem se expandido, o que é corroborado pela pesquisa, que aponta que elas também são importantes para o desempenho escolar e a vida dos estudantes nas diferentes idades e territórios investigados. Apesar da relevância dessas competências em todas as etapas, os jovens de 15 anos relataram, em média, níveis mais baixos de competências socioemocionais do que seus colegas de 10 anos, independentemente de seu gênero e origem social.

Haveria, portanto, um declínio no socioemocional dos estudantes conforme eles ficam mais velhos, tendência também observada por educadores e responsáveis. Outros estudos internacionais e nacionais indicam um padrão de que os níveis voltam a subir entre estudantes do Ensino Médio. Ou seja, a etapa dos Anos Finais do Ensino Fundamental, geralmente próximo do 14 e 15 anos, representa o chamado “vale” nas competências, chamando a atenção para a necessidade de uma intervenção ainda mais especial para o desenvolvimento nesta fase.

Entre as competências que mais demonstraram queda entre os estudantes de 10 e 15 anos foram otimismo, confiança, entusiasmo e iniciativa social. Além disso, o declínio foi ainda maior para as meninas do que os meninos em relação à maioria das competências. De acordo com o relatório, essa queda mais proeminente está ligada, provavelmente, aos maiores desafios sociais que as meninas podem enfrentar na transição da infância à adolescência.

Considerando o papel das competências socioemocionais como alavanca de aprendizagem, elas podem ser um caminho relevante para mitigação de desigualdades escolares e, consequentemente, sociais. Mas, para isso, é necessário oferecer mais oportunidades formativas aos estudantes de baixo nível socioeconômico, que em média relatam competências menos desenvolvidas do que os de níveis mais altos, provavelmente por não possuírem suporte de desenvolvimento dessas habilidades entre seus familiares e comunidades.

Desempenho Escolar

Entre os aspectos da vida do estudante que mais se relacionam com o desenvolvimento de competências sociemocionais, o relatório destaca o desempenho escolar e as expectativas dos jovens em relação às suas capacidades e planos futuros, acadêmicos e profissionais. De acordo com o estudo, estudantes com competências socioemocionais mais desenvolvidas têm maior probabilidade de ter melhor desempenho na escola e têm maiores expectativas educacionais: isso significa que, para além de obterem bons resultados nas avaliações, eles também têm maior tendência a ter ambições de continuar seus estudos após a conclusão do Ensino Médio e possível ingresso no Ensino Superior, por exemplo.

Apesar das expectativas educacionais serem mais elevadas entre os estudantes de maior nível socioeconômico, entre os mais pobres elas estavam relacionadas a uma maior curiosidade para aprender, que se revelou na pesquisa um poderoso motivador intrínseco, já que estudantes que são curiosos sobre diversos temas gostam de aprender coisas novas, estão mais preparados para enfrentar dificuldades e têm mais probabilidade de alcançar seus objetivos. Entretanto, curiosidade para aprender foi uma das competências que mais apresentou queda entre os jovens de 10 e 15 anos.

Bem-estar psicológico

Os desafios de saúde mental e bem-estar psicológico que costumar acompanhar o desenvolvimento entre a infância e a adolescência, e que foram intensificados pela pandemia, também foram abordados no estudo da OCDE. A pesquisa investigou três medidas de bem-estar psicológico: satisfação com a vida, bem-estar psicológico atual e ansiedade com provas. A avaliação teve como base o Índice de Bem-estar Cinco da Organização Mundial da Saúde (OMS-5), que perguntou aos estudantes sobre diversas experiências e sentimentos que vivenciaram nas duas últimas semanas, como ‘tenho me sentido alegre e de bom humor’ e ‘minha vida diária tem sido repleta de coisas que me interessam’. Os estudantes responderam a essas perguntas com base em uma escala de cinco pontos de “em nenhum momento” a “o tempo todo”.

No geral, o bem-estar psicológico sofre um declínio na transição da infância para a adolescência. Além disso, as meninas, independentemente de seu nível socioeconômico, relataram níveis mais baixos de bem-estar. Por exemplo: em relação à pergunta ‘meu dia a dia está repleto de coisas que me interessam’, apenas 45% dos meninos e 35% das meninas responderam “na maioria das vezes” ou “o tempo todo”. Já em ‘acordei sentindo-me revigorado e descansado’, apenas 23% das garotas responderam “na maioria das vezes” ou “o tempo todo”, contra 35% dos garotos. Quando perguntados se estão satisfeitos com a sua vida, cerca de 13% dos estudantes, considerando meninas e meninos de 15 anos responderam que se consideram ‘insatisfeitos’. Segundo o relatório, estes dados podem indicar prejuízo ao bem-estar psicológico e satisfação dos estudantes com a vida, causando efeitos em sua saúde mental.

ÍNDICE DE BEM-ESTAR PSICOLÓGICO

% de estudantes que responderam “na maioria das vezes” ou “o tempo todo” para as afirmações.

As competências socioemocionais que se relacionam mais fortemente ao bem-estar psicológico dos estudantes são aquelas relacionadas à Resiliência Emocional, como tolerância ao estresse, otimismo e tolerância à frustração.  Os dados apontam que a autoconfiança está relacionada a um nível mais alto de satisfação com a vida e bem-estar psicológico, e tolerância ao estresse se relaciona a níveis mais baixos de ansiedade e maior controle das emoções, por exemplo. A autogestão e o engajamento com os outros também podem apresentar efeitos significativos neste aspecto.

O bem-estar psicológico é composto por uma combinação entre características individuais, sociais e culturais. Ainda que influenciada por fatores externos, e mesmo que o desenvolvimento socioemocional não seja o único caminho para reverter cenários de saúde mental fragilizada, é fundamental compreender que essas competências podem atuar como fatores protetivos à saúde mental, oferecendo mais ferramentas para que os estudantes enfrentem os diversos desafios em sua vida.

Próximos passos

A partir destes e mais resultados, o relatório ‘Além da Aprendizagem Acadêmica’ ressalta a importância do desenvolvimento e avaliação do socioemocional dos estudantes como forma de implementar a educação integral em escolas e sistemas de ensino de todo o mundo. O estudo também destaca a escola como espaço fundamental para a promoção do bem-estar psicológico dos alunos, ajudando-os a reconhecer, compreender, e regular seu bem-estar psicológico.

Com o objetivo de oferecer informações longitudinais sobre a competências dos estudantes e seguir disseminando o tema, ao longo de 2022 a OCDE irá realizar novas coletas de dados em diferentes países, com divulgação dos novos dados para 2023. Por meio de parceria do Instituto Ayrton Senna e a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, o Brasil é um dos potenciais candidatos a participar deste próximo relatório.

Parte dos achados da pesquisa também foram corroborados em mapeamento socioemocional realizado pelo Instituto Ayrton Senna em parceria com a Secretaria de Educação de São Paulo que investigou as competências de mais de 642 mil estudantesConheça os dados aqui.

Para conhecer também os estudos relacionados pelo eduLab21, laboratório de ciências para educação do Instituto, clique aqui.

Instituto Ayrton Senna
Instituto Ayrton Senna Organização sem fins lucrativos comprometida com a educação

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