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Instituto Ayrton Senna e Conselho Nacional de Educação firmam parceria em evento sobre ‘alfabetização 360º’

A presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, e o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Roberto Curi, assinaram documento de entendimento de agenda técnica para o desenvolvimento de estudos que orientem futuras diretrizes sobre educação integral no Brasil, com destaque para a alfabetização plena.

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8 set 2020
Instituto Ayrton Senna Instituto Ayrton Senna

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A presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, e o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Roberto Curi, assinaram documento de entendimento de agenda técnica para o desenvolvimento de estudos que orientem futuras diretrizes sobre educação integral no Brasil, com destaque para a alfabetização plena. A parceria colaborativa foi firmada durante o evento “Alfabetização 360º – Na perspectiva da educação integral”, realizado pelo Instituto Ayrton Senna na Casa Natura Musical, em São Paulo, com apoio do Canal Futura.

De acordo com Curi, “o termo vai ajudar o CNE a tomar conhecimento de boas experiências educacionais no ramo da alfabetização”. Mozart Neves Ramos, diretor de Articulação e Inovação do Instituto, conselheiro do CNE e um dos elaboradores do documento, disse que “o trabalho conjunto se dará na perspectiva de olhar para o futuro e para as diretrizes vinculadas tanto à Educação Infantil quanto ao Ensino Fundamental, naquilo que concerne à alfabetização”.

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O evento contou com quatro painéis e duas mesas-redondas sobre a importância de políticas educacionais voltadas à alfabetização integral ou à intitulada “alfabetização 360º”, conceito investigado e disseminado pelo Instituto. Para a entidade, a alfabetização é um pilar estratégico para todo o processo de formação e desenvolvimento pleno de crianças e jovens, possibilitando que tenham atuação crítica e cidadã na sociedade. Sendo assim, deve transcender a necessidade de domínio da leitura, da escrita e do cálculo, e se juntar ao desenvolvimento de competências socioemocionais e de diferentes linguagens.

Viviane abriu o evento com o painel “A necessidade de se avançar no desenho de políticas de alfabetização para o século 21”. Ela destacou o histórico trabalho do Instituto para a diminuição do analfabetismo entre crianças e jovens, e as atuais ações da entidade para o desenvolvimento pleno dos estudantes de hoje e do futuro.

Segundo a presidente, as competências cognitivas, como leitura, escrita e cálculo, são, hoje, linha de largada para o aprendizado e desenvolvimento dos alunos, mas não são mais a linha de chegada. “As crianças vão precisar de mais do que isso. Elas vão precisar de competências socioemocionais que vão além da fronteira cognitiva para lidar com a quantidade de mudanças que vão experienciar”, afirmou.

Alfabetização 360°: conceito e direito

Inês Miskalo, gerente-executiva de Educação do Instituto, foi a responsável por definir “O que é alfabetização 360° na perspectiva da educação integral”. Segundo ela, ao se associar ao paradigma da educação integral, que prevê o desenvolvimento pleno dos estudantes em todos as suas dimensões (intelectual, física e socioemocional), a alfabetização 360º aponta para a necessidade de crianças que nasceram e vivem no sáculo 21 serem formadas para transitar, ao longo de toda vida, em uma sociedade complexa.

“Ser alfabetizado nessa sociedade não é só ter domínio do código verbal, da leitura, da escrita, da matemática e dos fenômenos da natureza, mas também ter desenvolvidas as competências socioemocionais e a articulação entre as linguagens materna, digital, artística, corporal e científica”, afirmou Inês, que também deu exemplos simples de como esse trabalho pode ser feito na escola.

“É possível usar a linguagem corporal para marcar o ritmo da leitura ou usar a língua materna para criar um roteiro de teatro. E, em uma discussão com a turma sobre por que o gelo derrete ou por que a lâmpada acende, os estudantes precisarão ouvir um ao outro, e, depois de um tempo, vão chegar a um denominador comum, que será um o pensamento do grupo. Ao usar a lógica do pensamento científico, construindo hipóteses e síntese, o aluno estará exercitando a linguagem oral e analisando problemas. Isso também ajuda o desenvolvimento socioemocional quanto à convivência relacional ”, explicou.

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Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto, fez uma apresentação sobre a “Alfabetização 360º como um direito de todas as crianças: urgente, indispensável e factível”, no painel “O diagnóstico da alfabetização no Brasil”. O pesquisador apresentou dados impressionantes sobre a desigualdade educacional no Brasil, que mostram que fatores socioeconômicos, regionais e raciais têm influencia sobre a alfabetização.

“Os 25% das crianças mais pobres do Brasil se alfabetizam mais de um ano depois do que os 25% das crianças mais ricas […] Ao invés de igualarmos todos em um mesmo ponto de partida [com relação ao aprendizado], estamos fazendo com que crianças de 6 anos sejam desiguais entre si com relação à alfabetização […] Imagine as consequências que isso tem sobre o aprendizado e todo o desenvolvimento”.

Durante a apresentação, os presentes também tiveram acesso à informação de que hoje, no Brasil, temos cerca de 280 municípios com índice de analfabetismo muito baixo. Para Paes de Barros, isso significa que “sabemos alfabetizar, mas temos dificuldade de copiar os bons exemplos”.

O caso de Sobral

A cidade de Sobral, no Ceará, seria um desses casos de sucesso. Segundo dados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) 2016, 91% dos estudantes sobralenses têm desempenho adequado em escrita e 83% dos alunos têm domínio de leitura e matemática.

Sendo parte da história do Instituto, o trabalho em prol da alfabetização realizado na cidade foi destaque no evento. Ivo Gomes, prefeito de Sobral, e Hebert Lima, secretário de educação do município, puderam falar do sucesso das políticas educacionais do território.

Gomes lembrou do início da parceria com o Instituto Ayrton Senna em 1997, quando o município aderiu ao programa “Acelera Brasil” para a correção do fluxo escolar. “Sobral se saiu mal no programa e no final nós descobrimos o porquê: como é que íamos corrigir o fluxo dos estudantes, se eles estavam completamente analfabetos? […] Encontramos crianças que estavam no 9º ano e eram analfabetas. Nós tiramos esses alunos da sala de aula e os colocamos em turmas de alfabetização”, contou o prefeito.

Até o ano de 2004, outros programas do Instituto também foram implementados no território, como o “Escola Campeã” e o “Gestão Nota 10”. Em 2018, a firmação de uma nova parceria com o Instituto, frente ao avanço dos índices de violência no município, fez com que o desenvolvimento intencional de competências sociemocionais entrasse de forma transversal no currículo das escolas da rede.

“Achei que só saber as coisas não era suficiente. Nós precisávamos de amor, solidariedade, desprendimento, tolerância. Eu não sabia que essas coisas todas tinham um nome, que era competências socioemocionais. Procurei o instituto Ayrton Senna, que me recebeu mais uma vez de braços abertos e nos associamos novamente para desenvolver a educação integral para nossas crianças e adolescentes”, completou Gomes.

Samyla de Sousa, professora da Escola José Ermírio de Morais, em Sobral, foi uma das profissionais da rede chamadas ao palco para contar experiências. Ela deu exemplos de trabalhos que faz para desenvolver competências cognitivas e socioemocionais dos estudantes ao mesmo tempo, considerando diferentes linguagens. “Usamos cartelas e cartazes para a leitura de palavras em sala de aula. A cada ponto final, digo para os alunos ‘vamos pular’. Assim, a criança perceber como podemos finalizar a frase”.

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Debates entre o terceiro setor

A primeira mesa-redonda, intitulada “Alfabetização no contexto da BNCC [Base Nacional Comum Curricular]”, teve mediação de João Alegria, gerente-geral do Canal Futura, e a participação de Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação; Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann e David Saad, diretor-presidente do Instituto Natura.

“Faltou para o Brasil pensar a alfabetização como uma estratégia; agora é hora de colocar a agenda da alfabetização no topo novamente”, iniciou Saad. Os demais participantes concordaram, ressaltando a oportunidade de tornar a BNCC um norte para a construção de políticas de alfabetização.

Priscila disse que “agora existe uma clareza do que precisamos ensinar na escola; logo, existem uma série de políticas que começam a se alinhar por causa da Base”. Mizne valorizou o caráter colaborativo do documento, que contou com a contribuição de diversos setores. “A trajetória da Base é muito rica, ela foi feita conjuntamente. O Brasil inteiro está construindo seus currículos a partir da Base, e ela está ajudando a tornar realidade várias questões que foram discutidas”, concluiu.

O último momento de debates propôs uma reflexão prática aos convidados: como o regime de colaboração entre municípios, estados e união ajuda a colocar em prática iniciativas de educação integral. Para falar sobre o assunto, Mozart Neves Ramos reuniu-se com Renan Sargiani, coordenador geral de Neurociência Cognitiva e Linguística do MEC; Luiz Roberto Curi, presidente do CNE; Ivan Cláudio Siqueira, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho; Patrícia Lueders, presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) de Santa Catarina e Márcio Pereira de Brito, secretário-executivo da secretaria de Educação do Ceará, representando o Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação).

Ao longo da conversa, todos trouxeram suas experiências quanto à colaboração entre entes federados e instituições em prol de uma educação de qualidade. Sargiani, falou sobre o Plano Nacional Alfabetização construído pelo MEC e defendeu a criação políticas de alfabetização com base em evidências. Siqueira opinou que o tema deve ser tratado como um projeto de país.

Já Pereira ressaltou os quatro pilares que considera fundamentais para a implantação de uma boa política de alfabetização em um regime de colaboração: formação de professores, material estruturado, avaliação e políticas de reconhecimento e incentivo. “Regime de colaboração não pode ser apenas um conjunto de boas intenções, mas também de prioridades na gestão”, defendeu.

Por último, Patrícia falou que ainda que políticas tenham pilares em comum, devem levar em consideração as particularidades de cada rede de ensino. “É preciso olhar para diversas experiências, mas também avaliar que cada realidade é uma realidade”.

No encerramento, Emílio Munaro, diretor de Desenvolvimento Global do Instituto, que atuou como mestre de cerimônias, prestigiou os educadores presentes e convidou a todos que se mantenham engajados em prol da alfabetização de qualidade. Também anunciou que materiais sobre os temas tratados no evento serão disponibilizados nos canais digitais do Instituto ao longo do ano. “Nosso objetivo é reforçar a troca de boas práticas de alfabetização e disseminar conhecimentos sobre a educação integral em todas as etapas de ensino”, disse.

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Instituto Ayrton Senna
Instituto Ayrton Senna Organização sem fins lucrativos comprometida com a educação

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