Competências socioemocionais nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental

O eduLab21, laboratório de ciências para a educação do Instituto Ayrton Senna, acaba de lançar o e-book “Competências Socioemocionais e Emocionais da Criança dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental”, que aborda o desenvolvimento pleno de estudantes em fase de alfabetização e na transição para os Anos Finais do Ensino Fundamental. O conteúdo também traz conceitos ligados à inteligência emocional, avaliação de competências socioemocionais e características desenvolvimentais da criança nesta fase da vida. O e-book está disponível gratuitamente aqui.

Gisele Alves, gerente executiva do eduLab21, destaca a importância da publicação no contexto dos demais trabalhos que vêm sendo realizados. “O eduLab21 tem disponibilizado diversos materiais semelhantes a este, com o objetivo de contribuir para a divulgação do conhecimento produzido, em formato e linguagem acessíveis e de fácil entendimento. Contudo, uma vez que cada etapa de ensino possui características e desafios próprios, este e-book visa tratá-los sob a perspectiva do desenvolvimento e avaliação socioemocionais no contexto escolar deste público específico de estudantes. Esperamos, assim, somar nossos esforços aos dos educadores, de forma geral, no enriquecimento de práticas educacionais considerando a dimensão socioemocional como parte essencial do desenvolvimento pleno”.

Quando se fala em educação integral, é preciso reiterar que ela olha para o desenvolvimento do estudante em todas as suas dimensões – cognitiva, socioemocional, física, simbólica, cultural e ética. Quando se pensa nos primeiros anos do Ensino Fundamental, é preciso considerar o processo de construção de conhecimento e alfabetização em todos esses aspectos, considerando ainda as múltiplas linguagens que são envolvidas. Um olhar pleno nessa etapa é essencial para garantir uma base sólida não só em leitura e escrita, mas também na aquisição dos saberes que serão necessários nessa etapa e em toda a trajetória escolar do estudante. Assim, é possível garantir o seu avanço nos Anos Iniciais e a transição adequada para os Anos Finais e Ensino Médio, com o desenvolvimento das habilidades necessárias estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Confira alguns achados do e-book sobre competências nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental

O material contido no e-book reitera que o período da infância é caracterizado por transformações que ocorrem ao longo da vida, de maneira contínua, sequencial, e que abrangem todos os domínios do funcionamento humano. Essa perspectiva chama a atenção para necessidade de uma visão ampla e interconectada do desenvolvimento do estudante. Por isso, quando falamos em desenvolvimento, é claro que também estamos considerando o desenvolvimento das competências socioemocionais.

Também é preciso considerar a realidade social, cultural, física e intelectual de cada criança, já que todos esses aspectos são intrínsecos ao seu desenvolvimento e contribuem para construção de sua relação com a escola e a própria família. Especialmente nessa faixa etária, a escola e a família têm uma importante função enquanto um ambiente de socialização. Esses são fundamentais para o desenvolvimento integral na infância, na medida em que promovem experiências nos campos da inteligência, afetividade, da construção da própria identidade e das relações pessoais. É na escola e na família que a criança nessa faixa etária vivencia mais intensamente as regras, costumes, jeitos de ser e de fazer e também, na relação com o outro, vai construindo seus próprios gostos e preferências. Portanto, o suporte da escola e o suporte da família, enquanto contextos seguros devem ser fortemente estimulados.

“O desenvolvimento socioemocional na faixa etária típica dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é especialmente intenso e diverso. Nos primeiros anos, a criança se dedica a aprender a organizar seu material, conhecer uma nova rotina com horários de estudo e de lazer mais bem delimitada e também mergulha num mundo de muita curiosidade e descobrimento de palavras, de números, de pessoas. Quando já mais inteirada desse novo mundo, a criança vai crescendo e descobrindo quem é ela, como se sente em relação aos colegas, aos professores, aos demais educadores da escola. Todas essas experiências, colocam a criança ativamente em contato com suas emoções e, com isso, ela aprende a lidar com suas frustrações, suas alegrias, conquistas e constrói sua autoconfiança. O olhar atento também ao processo de desenvolvimento socioemocional favorece uma construção sólida e segura de quem essa criança é e como interage no mundo a sua volta”, explica Ana Carolina Zuanazzi, uma das coautoras da obra.

Efeitos da pandemia

As experiências vivenciadas na escola e no núcleo familiar são fundamentais na vida de uma criança, já que promovem o desenvolvimento de suas competências socioemocionais, cognitivas e físicas. Durante a pandemia de Covid-19, tais vivências ficaram comprometidas em decorrência da necessidade do fechamento das escolas e do isolamento social, impactando o desenvolvimento de competências importantes como cooperação e o controle de impulsos.

No campo socioemocional, as implicações da pandemia são extensas. Estudos registraram que 1 em cada 4 crianças (26,48%) demonstrou o sintoma regressivo de demanda por proximidade física com os pais durante a noite e quase 1 a cada 5 crianças (18,17%) manifestou medos que não tinha antes. Metade das crianças (53,53%) apresentou sinais de irritabilidade, intolerância a regras, “caprichos” e exigências excessivos, e 1 a cada 5 crianças apresentou mudanças de humor (21,17%) e problemas associados ao sono, incluindo dificuldade de adormecer, agitação e despertares frequentes (19,99%). Uma em cada 3 crianças (34,26%) demonstrou nervosismo quando o tema da pandemia era mencionado em casa ou na televisão. Apesar de a maioria das crianças pesquisadas parecer ter se adaptado às restrições da pandemia (92,57%), quase metade delas (43,26%) demonstrou pouco interesse pelas atividades que realizava antes da pandemia, o que incluía brincadeiras, estudos e jogos.

Avaliação

A avaliação de competências socioemocionais nos Anos Iniciais precisa considerar, antes de mais nada, as características de cada idade. O período dos 6 aos 10 anos é conhecido como terceira infância e, dentro desse recorte, são observadas diferenças em termos de desenvolvimento cognitivo e social nas diferentes idades. Por exemplo, enquanto a criança de 6 a 7 anos está desenvolvendo sua habilidade motora fina, a de 10 anos está envolvida nos desafios de autoconhecimento e socialização.

Métodos de monitoramento socioemocional são essenciais no ciclo de desenvolvimento de qualquer competência. É por meio dela que conhecemos, de maneira padronizada e baseada em evidências científicas, as potencialidades e necessidades de desenvolvimento de cada criança. Nesse sentido, o e-book apresenta uma proposta de instrumento, o Senna para Crianças, que foi criado pelo eduLab21, aplicado como piloto a mais de 25 mil estudantes e está, atualmente, disponível em formato digital nas plataformas do Instituto. Além de fomentar o exercício do autoconhecimento com as crianças, a aplicação gera um relatório de devolutiva ao docente, oferecendo insumos e bases para que professor e estudante discutam as percepções de ambos e, caso avaliem ser necessário, tracem em conjunto estratégias para favorecer o desenvolvimento de alguma competência.

Inteligência emocional

O e-book apresenta ainda um olhar para o conceito de inteligência emocional, entendida como a capacidade de raciocinar sobre informações emocionais, caminhando junta com as competências socioemocionais para o desenvolvimento integral do estudante. Existem diferentes modelos teóricos, qudentre eles, destacamos um que especifica o conceito de inteligência emocional em quatro principais ramificações: a capacidade de perceber e expressar emoções, a capacidade de facilitar ou raciocinar sobre emoções, a capacidade de compreender emoções e, por fim, a capacidade de regular emoções.

Como qualquer habilidade, a inteligência emocional apresenta níveis e marcos de desenvolvimento e é passível de ser aprendida/ aprimorada. Suas habilidades são requisitadas em diversas situações de sala de aula e seu melhor desenvolvimento parece favorecer inúmeros processos cotidianos desse contexto.

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