Em parceria com Instituto Ayrton Senna, Secretaria Estadual implementou inovações de educação integral no ano de 2019 e anuncia ampliação para 2020
Para compartilhar conhecimentos sobre a importância do desenvolvimento integral de estudantes e educadores, a Secretaria de Educação do Estado do Mato Grosso do Sul realizou o Seminário Internacional: Competências Socioemocionais e Educação Integral, que teve apoio do Instituto Ayrton Senna. O evento aconteceu no dia 06 de novembro, em Campo Grande (MS), e reuniu mais de mil educadores, incluindo professores, gestores escolares, coordenadores, equipes da secretaria de Educação e secretários municipais de educação de Mato Grosso do Sul.
Entre os presentes, estavam profissionais que participaram de dois projetos inovadores para a promoção da educação integral ao longo de 2019, também por meio de parceria entre a Secretaria e o Instituto, com apoio da FMC. Uma das propostas é voltada à formação socioemocional dos professores, e mobilizou 140 pessoas ao longo do ano para vivenciar dinâmicas e reflexões que permitem ao educador ampliar seu autoconhecimento e seu potencial para utilizar habilidades de abertura ao novo, comunicação, determinação, entre outras. A outra proposta, chamada Diálogos Socioemocionais, aconteceu em 88 escolas (abrangendo cerca de 19 mil alunos) para apoiar o desenvolvimento de 17 competências dos estudantes a partir do uso de uma avaliação formativa e de metodologias ativas. Nesta proposta, a implementação se deu por meio da 3Gen, agência parceria do Instituto Ayrton Senna para implementação de soluções inovadoras.
Durante a programação do Seminário Internacional, diversos estudantes da rede estadual e também professores contribuíram com depoimentos sobre sua perspectiva de como funcionaram essas duas propostas de educação integral e de que forma elas já transformaram sua relação com a escola e com a vida. Clique para ver mais! Na mesa de abertura, a Secretária de Educação, Cecília Motta, mencionou que estas iniciativas fazem parte do esforço da rede, que desde 2017 já trabalha em colaboração com os municípios do Estado para elaborar o currículo de referência de todas as escolas, dialogando com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e com as dez competências gerais que esse documento define como essenciais para todo cidadão brasileiro, contendo aí características socioemocionais.
“O Instituto está nos auxiliando na formação de professores e da comunidade escolar, principalmente no tocante às competências. Esse trabalho com o Instituto me tocou muito, porque em geral estamos fugindo de nós mesmos, deixamos de refletir, de analisar, e se eu não me conheço como pessoa, como posso fazer com que meu aluno se desenvolva? Daí a importância de projetos como esses”, afirmou Cecília, anunciando também que em 2020 o número de escolas com o Diálogos Socioemocionais vai crescer para 200 unidades, com expectativa de ampliação também no projeto de socioemocional de professores.
O diretor de Desenvolvimento Global do Instituto, Emílio Munaro, destacou o trabalho em parceria e o pioneirismo do alcance dessas duas propostas. “É muito importante ter visão estratégica sobre educação, tratando o assunto como prioritário, promovendo a articulação e colaboração, para que possamos olhar para o ser humano de forma plena e apoiar o professor nessa educação com intencionalidade”, valorizou.
Os participantes acompanharam ainda as apresentações dos palestrantes Oliver John (Universidade de Berkeley, na Califórnia-EUA), Filip de Fruyt (Universidade de Ghent, na Bélgica) e Ricardo Primi (Universidade de São Francisco, em Campinas-SP), que compartilharam o estado atual das pesquisas nas áreas da Psicologia (várias delas, em parceria com o IAS) que buscam avaliar e promover as competências socioemocionais.
“Temos no dia a dia das escolas muitas situações complexas, como o bullying, que envolvem quase todos, mesmo os que não praticam e que muitas vezes são observadores passivos; em situações assim, como podemos preparar os estudantes para atuar de forma mais positiva e construtiva?”, questionou Oliver. Segundo ele, muitas vezes cada escola elenca um conjunto próprio de características que gostaria de desenvolver nos estudantes, mas nem sempre consegue saber se de fato está promovendo aquilo que almeja e nem se está abrangendo todos os aspectos necessários para gerar mais realização nesta tarefa.
“Precisamos entender quais são as competências socioemocionais, como elas se organizam, se combinam e são desenvolvidas. Em alguns casos pode até haver um componente genético, que trata sobre a tendência de um aluno absorver e praticar mais rapidamente essas competências, por isso o professor, às vezes, tem alunos que já desempenham empatia com facilidade e outros que precisam de mais apoio, por exemplo, mas todos podem aprender, daí a relevância da prática intencional e do contexto favorável para isso”, afirmou.
Segundo o pesquisador, ainda que o conhecimento nesse campo esteja avançando muito, a ciência precisa do apoio dos professores que estão nas escolas e que são especialistas em desenhar boas estratégias de ensino e aprendizagem. De acordo com ele e com Filip, muitos estudos mostram que o professor é o elo mais relevante para o desenvolvimento dos estudantes.
“A atuação do professor vai além daquilo que ele fala, pois ele interfere na vida dos estudantes também segundo seu comportamento; é o que chamamos de aprendizagem observacional, ou seja, o aluno também aprende como ser um cidadão ao observar como o professor se comporta nesse sentido. Por isso, trabalhar competências socioemocionais em sala de aula faz cada professor se observar também, e se relacionar com suas próprias habilidades em ação”, destacou Filip.
Segundo ele, diversos estudos mostram que há correlação entre algumas dessas características dos professores e resultados dos estudantes em participação nas aulas, engajamento com os estudos e não abandonar a escola. “Claro que há, também, outros componentes que se relacionam com o abandono escolar no Brasil, mas não podemos deixar de apoiar o professor nisso; tenho estudado muitos depoimentos sobre o que é ser um bom professor, e vejo um conjunto amplo de características, como respeitar a heterogeneidade do grupo de alunos, construir relacionamentos positivos, ser acolhedor, usar recursos variados para desenvolver e avaliar os estudantes”, destacou.
“É um conjunto impressionante de atitudes que o professor tem que desempenhar, mas não estamos dizendo que eles têm que ser os melhores em todas elas; não queremos, de forma alguma, definir um padrão ideal de professor, um único perfil que deve ser seguido como uma máquina; longe disso, reconhecemos que há maneiras muito variadas de ser um excelente professor, há muito espaço para a diversidade e cada um desenvolve a sua, mas poderá fazer isso ainda melhor se tiver uma formação que o apoie também em conhecer suas competências socioemocionais”, defendeu.
No evento, o Instituto recebeu, da Secretaria de Educação, um quadro do artista plástico e formador da rede Bruno Sandri, em que ele relaciona momentos vivenciados nas formações dos dois programas conduzidos em Mato Grosso do Sul em parceria com o Instituto.
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