Políticas públicas e ações que apoiem a formação e desenvolvimento de educadores são fundamentais para garantir uma educação integral de qualidade para todos. Para debater este tema e falar sobre os desafios e oportunidades das políticas docentes, o Instituto Península, junto com o Instituto Ayrton Senna, Fundação Santillana e Movimento Profissão Docente realizaram a live ‘A Evolução das Políticas Docentes’.
O encontro promoveu um debate entre Michael Fullan, pesquisador canadense referência no tema de formação de educadores, Mozart Neves Ramos, vice-presidente do conselho do Instituto Ayrton Senna, e Fernando Luiz Abrucio, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A ocasião também marcou o lançamento do livro ‘Desafios da Profissão Docente: Experiência Internacional e o Caso Brasileiro’, publicação organizada por meio de uma parceria entre o Instituto Ayrton Senna e o Instituto Península e publicada pela Fundação Santillana.
Com pesquisa liderada por Fernando Luiz Abrucio e Catarina Segatto, também pesquisadora da FGV, o livro traz reflexões importantes sobre a formação de professores, buscando trazer caminhos para aprimoramentos das políticas públicas na área. Entre os tópicos discutidos na publicação estão pontos sobre como a profissão é encarada na atualidade, incluindo o olhar para os valores profissionais e competências socioemocionais dos educadores, quais elementos estratégicos mais favorecem as políticas docentes, e boas práticas de formação e desenvolvimento docentes identificadas no Brasil e no mundo.
Michael Fullan, diretor global da organização New Pedagogies for Deep Learning e professor emérito da Universidade de Toronto, iniciou sua fala fazendo um chamado para uma ampla reforma educacional. “Essa é a década para fazermos a mudança na educação que deveríamos ter feito antes”, afirmou. Compartilhando suas experiências com o sistema educacional em Ontário, Canadá, o pesquisador apontou alguns pilares fundamentais para promover mais qualidade nos sistemas educacionais. Entre eles, estão tópicos como focar em metas objetivas, desenvolver lideranças em todos os níveis, mobilizar estratégias que estejam baseadas em evidências, transparência e fortalecimento da legislação.
Mais especificamente sobre a formação de educadores, Michael Fullan ressaltou a importância de tornar a escola e comunidade escolar em espaços para o desenvolvimento constante dos professores, principalmente em início de carreira. O pesquisador ressaltou ações como novos critérios de admissão de professores, não apenas baseados em desempenho acadêmicos, mas que também levem em consideração aspectos comportamentais e sociais, como pontos importantes para uma mudança na educação a partir da atuação do educador.
“É preciso buscar educadores que queiram fazer a diferença na vida dos estudantes, promover formações iniciais mais longas e maior parceria das escolas com as universidades, conectando o professor contratado com mentores que ofereçam feedbacks para o seu desenvolvimento. A forma mais rápida de promover essas mudanças é investindo na qualidade do grupo escolar e dos líderes, pois culturas colaborativas apoiam o capital humano, individual”, defendeu.
Conectando os pontos levantados pelo professor Fullan com a realidade brasileira, Mozart Neves Ramos e Fernando Abrucio discutiram os desafios da política docente no Brasil e possíveis caminhos para ações de formação e desenvolvimento de educadores. “Nosso desafio é fortalecer a profissão docente quanto à sua atratividade e motivação para a carreira, assim como o lugar do professor na sociedade”, salientou Abrucio.
Para endereçar estas questões e tornar a carreira docente mais atrativa para jovens talentosos e conectados com o propósito da educação, o professor defendeu que é preciso uma mudança de cultura e de percepção das pessoas acerca da profissão docente. “A educação é um trabalho colaborativo de mudança de pensamento; resultados e incentivos são importantes, mas sem essa mudança, as transformações não serão duradouras”, analisou.
Para tornar a carreira docente mais atrativa e as políticas de formação e desenvolvimento de educadores mais robustas, foram apresentados caminhos possíveis, como a melhoria da formação inicial, articulada com a prática em sala de aula, e o foco em competências mais amplas a serem desenvolvidas pelo professor. “É preciso uma formação inicial voltada para múltiplas competências; é preciso reforçar ao profissional que ele é um educador, e isso envolve mais habilidades, voltadas para o século 21.
Os professores devem ser capazes de desenvolver a motivação dos seus estudantes”, afirmou. Mozart, que é membro do Conselho Nacional de Educação, salientou a importância de levar o desenvolvimento socioemocional aos educadores, relatando também as dificuldades que escolas e sistemas de ensino enfrentam para garantir este desenvolvimento integral. “Por isso, no CNE, colocamos nas novas diretrizes de formações artigos incentivando mais alinhamento entre a teoria e a prática; precisamos preparar o estudante para o seu futuro, não para o passado do próprio professor”, ressaltou.
Os especialistas também discutiram formas de fomentar uma cultura mais colaborativa entre os diversos atores envolvidos na educação, como escolas, universidades, união, estado e municípios. De acordo com Mozart, as decisões devem ser mais compartilhadas, oferecendo protagonismo às redes e educadores.
“O nosso desafio é que temos ainda uma cultura do dirigismo centrado muito forte, e quem vai mudar isso é a escola e a sociedade organizada”, declarou. Para endereçar essa questão, Abrucio listou três pontos necessários para gerar mais colaboração entre órgãos públicos e sociedade no Brasil:
1) coerência nas reformas propostas, de forma que tenha foco nas em meta objetivas, estabelecendo confiança, 2) mais diálogo, transparência e compartilhamento de resultados e 3) maior protagonismo nas decisões para educadores e escolas.
Por fim, um questionamento: quais seriam, então, os próximos passos para colocar essas ações em práticas? Com unanimidade, os participantes apontaram que as aprendizagens perdidas e saúde emocional de estudantes e educadores devido à pandemia da Covid-19 compõem o problema mais urgente a ser endereçado. Para Fullan, as mudanças mais permanentes começarão a ser implementadas pelas escolas e redes de ensino pelo menos daqui um ano, e necessidades básicas como questões de saúde e segurança sanitária seguem tendo protagonismo. Mozart, por sua vez, ressaltou os desafios que escolas e educadores enfrentarão ao colocar em prática um currículo que considere as defasagens de aprendizagem e seja organizado para os anos de 2021 e 2022. Abrucio ressaltou como fundamental o acolhimento de estudantes e professores.
Para saber mais sobre o tema faça download do livro na íntegra:
Download
Deixe um comentário e
compartilhe sua avaliação
sobre o conteúdo.
COMENTÁRIOS
Ainda não há comentários. Seja o primeiro a comentar.