Para abordar o conceito da motivação na perspectiva acadêmica e seus desdobramentos em experiências práticas e histórias inspiradoras, o Instituto Ayrton Senna realizou o Seminário Internacional “Motivação: evidências para promover a aprendizagem”. Com mais de 17 mil inscritos, o evento aconteceu no dia 15 de junho de 2021, das 9h às 18h, transmitido de forma gratuita em plataformas virtuais.
A abertura do seminário foi feita pela presidente do Instituto, Viviane Senna, que falou sobre os riscos do isolamento social para o aumento da evasão escolar e importância ainda mais estratégica da motivação para enfrentar esse cenário. “A motivação não é qualquer aliado, mas sim uma verdadeira alavanca para a aprendizagem e para a equidade.
A boa notícia vem da ciência: esse aliado pode ser desenvolvido”, apontou, destacando também o fato de que o desempenho das características relacionadas à motivação pode aumentar em até 76% com intervenções direcionadas. Em seguida, foi a vez do Príncipe Albert de Mônaco falar sobre seu exemplo pessoal com a motivação para agir em defesa dos oceanos e pelo exemplo deixado por Ayrton Senna ao longo de toda a sua carreira.
A ciência por trás da motivação
A primeira mesa do evento contou com a presença do pesquisador estadunidense Kevin McGrew, que apresentou os principais pontos do modelo CAMML (The cognitive-affective-motivational model to learn) de motivação e quais as suas contribuições para que se possa cruzar a fronteira para um aprendizado motivado. “A pessoa tem que acreditar que consegue fazer e isso precisa ser trabalhado. É preciso fazer perguntas orientadoras, quando pensamos em estudantes, você mesmo, organizações”, comentou o pesquisador. Com a moderação de Gisele Alves, gerente executiva do eduLab21, do Instituto, a mesa também teve a presença do pesquisador e membro do eduLab21, Ricardo Primi, que falou da relação do modelo proposto por McGrew com as competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A motivação na prática
A modelo Gisele Bündchen também deixou seu recado sobre motivação, compartilhando a sua história de interesse por causas ambientais e como isso a motivou para colocar seus sonhos em prática, criando projetos e gerando conscientização sobre o tema. A modelo também falou sobre a importância do autoconhecimento e de refletir sobre si mesma para encontrar seu propósito, usando esse conhecimento a seu favor para entender os desafios de sua jornada e as formas de superá-los.
A motivação para a ciência foi o tema da conversa com a conservacionista Jane Goodall, conduzida por Cláudia Costin. Em um relato sobre o incentivo familiar e a curiosidade para aprender sobre territórios e animais pouco estudados, Jane falou sobre a persistência e a determinação necessárias para se lançar como pioneira em um campo de pesquisa prioritariamente masculino e para criar formas de levar o conhecimento acadêmico ao máximo possível de pessoas. “Estou há muito tempo nesse planeta e já vi muitos dos danos que a gente causou, não só da parte dos chimpanzés.
Somos a criatura mais intelectual que está destruindo seu próprio lar”, compartilhou Goodall, explicando a maneira como a observação dos chimpanzés permitiu que ela entendesse a individualidade de cada comunidade e conseguisse transpor os seus ensinamentos para falar de preservação ambiental.
Na sequência, a transposição da ciência para a política educacional foi discutida na mesa “Como fortalecer a motivação por meio de políticas educacionais”, iniciada com a participação de Sarah Bouchie, da Lego Foundation, que falou da experiência internacional em proporcionar experiências de aprendizagem a partir da brincadeira e da importância de se implementar inovações na educação formal ao redor do mundo. “As crianças de hoje vão enfrentar dilemas que não conseguimos nem prever. Precisamos ajudá-las a desenvolver suas habilidades e criar outras que ainda não prevemos”, disse Bouchie.
Para dar exemplos de como é possível incorporar os achados da ciência em novas políticas educacionais, Raquel Teixeira, Secretária da Educação do Rio Grande do Sul, e Rossieli Soares da Silva, Secretário da Educação do Estado de São Paulo, analisaram as oportunidades de promover o desenvolvimento pleno na educação brasileira, por meio de inovações curriculares, de formação de professores e de avaliação. “Estamos buscando flexibilizar mais o currículo para que isso seja possível. Estruturamos nossos materiais para que nas aulas de matemática, por exemplo, ele esteja desenvolvendo as competências socioemocionais”, afirmou Rossieli.
No período da tarde, a programação retomou com mais uma história inspiradora mostrando o conceito na prática: Eduardo Kobra contou um pouco de sua história para mostrar como a motivação para a arte o levou a se tornar um dos maiores muralistas do mundo e a se comunicar com milhões de pessoas por meio de suas obras.
Figura conhecida das ruas paulistanas, nova-iorquinas, europeias e africanas, Kobra deixou uma mensagem de persistência aos mais jovens e à necessidade de oferecer a eles oportunidades para que eles possam desenvolver e exercitar aquilo que os motiva e inspira.
Programação direcionada
Em seguida, foi a vez de dividir o público em duas trilhas formativas. Na trilha 1, a mediadora Silvia Lima, gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna, conduziu a conversa sobre motivação na prática pedagógica e recebeu três educadores: Jessé Cruz, da Secretaria da Educação do Mato Grosso do Sul, falou sobre a experiência da rede estadual com projeto de vida, e de como os resultados têm impactado até mesmo os professores locais a mergulhar em processos de autoconhecimento e desenvolvimento.
Cássia Moraes, da Secretaria da Educação de São Paulo, compartilhou perspectivas e resultados com o desenvolvimento de um novo currículo e da necessidade de uma formação que garanta a motivação dos estudantes ao longo de sua trajetória escolar e para além dela. Edgar Andrade, do FabLab Recife, mostrou como a experimentação potencializa a aprendizagem e motiva os alunos a agirem aprendendo com a mão na massa. A necessidade de expandir experiências como essas e torna-las acessíveis a todos os educadores foi comentada por Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), e Leila Perussolo, vice-presidente do Consed (Conselho Nacional dos Secretários de Educação).
“Os educadores tiveram a oportunidade de compartilhar práticas inspiradoras que mobilizam a engajam nesse processo, e finalizamos entendendo como essas experiências podem deixar de ser ações isoladas e serem feitas em escala, transformadas em políticas públicas”, arrematou Sílvia.
Na trilha 2, a motivação acadêmica foi discutida a partir da entrevista feita por Roberto Lent com Ana Deyvis e Evely Burocovitch, cujas pesquisas foram selecionadas no edital da Rede Nacional de Ciência para Educação (CPE), para entender as diversas perspectivas acadêmicas sobre motivação escolar e como a temática pode se inserir no contexto escolar, por meio da formação de professores e demonstrando relação com o desempenho dos estudantes.
Além disso, cinco pesquisadores associados ao EduLab21 – Nelson Hauck, Ana Carolina Zuanazzi, Rodrigo Travitzki, Rodolfo Ambiel, Alexandre Peres e Felipe Valentini – se reuniram para dialogar sobre conceitos e modelos relacionados às pesquisas em motivação e em competências socioemocionais, abordando evidências para novas discussões sobre o tema.
Para a moderadora Catarina Sette, gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna, a mesa foi enriquecedora do ponto de vista científico. “Foram compartilhados os achados mais recentes entre competências socioemocionais e motivação, estudos empíricos que relacionam o modelo apresentado por McGrew e o modelo Senna, e a importância de monitorar essas competências”, pontua.
Motivação para transformar
O último convidado internacional do seminário foi o inventor e escritor William Kamkwamba, que teve sua história de vida conhecida mundialmente pelo filme “O menino que descobriu o evento”. Sua dedicação, persistência, curiosidade e resiliência fizeram com que ele conseguisse mudar a vida de sua comunidade, continuasse seus estudos e fizesse da transformação social a sua grande causa. “A educação tem que ser universal, mas muitas vezes as oportunidades não são. Muitas pessoas têm uma ideia que pode mudar muitas coisas, mas se não tem recursos, a ideia nunca vai ver a luz do dia”, apontou.
O final do evento foi marcado por um recado da vice-presidente de Educação, Inovação e Estratégia do Instituto, Tatiana Filgueiras, que visitou a ponte do rio Rubicão – grande metáfora da motivação acadêmica, que tem bases históricas nesse rio italiano – e o monte Marmolada, cenário do filme “Imparável”, que conta a história real de Getúlio Felipe, menino brasileiro com com deficiência e dificuldade para andar e que se tornou uma inspiração se motivar para andar e escalar o Marmolada. O acesso ao filme foi liberado em primeira mão a todos os participantes do evento.
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