Por Mozart Neves Ramos e Daniela Arai
(Correio Braziliense ‐ Opinião ‐ 03/12/2015)
O ano de 2015 foi marcado por dificuldades e oportunidades no campo da educação. Dificuldades decorrentes da crise econômica e política pela qual o país atravessa, que se refletiu em cortes orçamentários em importantes áreas educacionais. E oportunidades de reflexão abertas por amplos movimentos de revisão e replanejamento, que tiveram como objetivo traçar uma agenda nacional e internacional para a educação pós‐2015.
No nível internacional, os 193 Estados‐Membros da ONU, entre eles o Brasil, acordaram proposta de agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo a promoção de educação de qualidade. Dando um salto em relação aos Objetivos do Milênio 2014 que expiraram em 2015 e previram a conclusão do ensino básico como principal meta educacional 2014, os ODS declararam como meta assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
No âmbito nacional, estados e municípios trabalharam os novos planos de educação para o próximo decênio, dando vida ao Plano Nacional de Educação ao estabelecerem estratégias regionais para o alcance das metas nacionais. Ainda em nível nacional, a discussão da Base Nacional Comum, que está em fase de consulta pública, representou oportunidade ímpar de debater os conhecimentos e habilidades que os alunos brasileiros devem ter direito de desenvolver durante a educação básica.
Tanto as iniciativas nacionais quanto as internacionais representaram oportunidade de reflexão sobre o quê e o como da educação, ou seja, sobre o que é preciso ensinar às novas gerações para que estejam efetivamente preparadas para a vida no século 21, e sobre como garantir a aprendizagem significativa, promovendo engajamento com a escola e permitindo aos estudantes seguirem aprendendo ao longo da vida.
A reflexão culminou em constatação dupla: primeiro a de que precisamos encontrar novas formas de resolver velhos problemas, já que as estratégias que estamos adotando não estão dando conta de reter os alunos na escola e garantir sequer o aprendizado dos conteúdos básicos; segundo, a de que, mesmo que estivéssemos garantindo o aprendizado dos conteúdos básicos, ainda estaríamos muito distantes de oferecer a crianças e jovens educação que os preparem para o futuro.
Mais do que o conteúdo acumulado, ou a capacidade de resolver problemas conhecidos, o mundo exigirá das pessoas a capacidade de seguir aprendendo ao longo da vida e de colocar o conhecimento em ação para endereçar problemas que ainda não são conhecidos, de maneira consciente, responsável e colaborativa.
Para isso, a escola terá de se reinventar sobre as bases de novo paradigma: um paradigma que leve em conta não apenas a herança do passado, o conhecimento acumulado pela humanidade, mas as expectativas com relação ao futuro, considerando o que queremos para as novas gerações e o que as tendências já nos apontam. Para além de carta de intenções, esse deve ser paradigma de ação, que estabeleça as metas, as estratégias e os mecanismos de acompanhamento para concretizar o que há muito se declara como missão da educação, mas que poucos efetivamente realizam: pleno desenvolvimento do ser humano.
Flexibilização dos currículos, personalização do ensino, multiletramentos (letramento em programação, letramento científico etc.), desenvolvimento de competências socioemocionais são caminhos que se vislumbram para responder às tendências do futuro incerto. Para que as inovações cheguem à sala de aula, será preciso investir em políticas e práticas baseadas em experiências e evidências, num espírito de compromisso e colaboração entre gestores, educadores, cientistas e sociedade em geral.
Longe de ser supérflua, a inovação parece ser a única solução para seguirmos em frente em cenários de incerteza como o que vivemos, atuando como protagonistas da nossa história, não apenas reagindo a ela. O ano de 2015 foi profícuo em discussões, esperamos que 2016 seja pródigo em transformar intenções em ações, reunindo os setores da sociedade numa ética de corresponsabilidade pelo futuro das novas gerações.
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