Gestores e secretários discutem sobre educação socioemocional em encontro promovido pelo Instituto Ayrton Senna – em parceria com a Cátedra Instituto Ayrton Senna no Instituto de Estudos Avançados da USP Ribeirão Preto. Realizado em 2 de dezembro, o workshop “Da Pesquisa à Ação Política” reuniu representantes do Ministério da Educação (MEC), pesquisadores e representantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para uma troca de experiências e informações.
O evento teve como objetivo discutir políticas públicas voltadas ao desenvolvimento de competências socioemocionais, com destaque para a divulgação dos resultados da pesquisa internacional SSES (Survey on Social and Emotional Skills), conduzida pela OCDE em parceria com o Instituto. Realizado em territórios em 16 países, no Brasil, o estudo contou com a participação de estudantes de 10 e 15 anos em Sobral (CE).
Principais resultados
A pesquisa destacou que fatores como feedback regular dos professores, senso de pertencimento à escola, equidade de gênero e participação em atividades extracurriculares são essenciais para o desenvolvimento de habilidades como empatia, autoconfiança e resiliência. Em, Sobral, por exemplo, 36% dos estudantes de 15 anos relataram receber orientações sobre desempenho regularmente (média internacional: 42%) e a Educação integral se destaca pela integração das habilidades socioemocionais em todas as disciplinas (94% dos alunos).
“A percepção do estudante sobre sua própria saúde mental é até 64% melhor entre aqueles com níveis avançados de competências socioemocionais, em comparação com os que apresentam baixos níveis. Autoconfiança está ligada à realização pessoal, expectativas positivas e um sentimento geral de bem-estar. Esses dados mostram que competências socioemocionais desempenham um papel crucial na saúde mental e devem ser intencionalmente trabalhadas para promover comportamentos mais saudáveis”, explicou Gisele Alves, gerente-executiva do eduLab21 do Instituto Ayrton Senna.
Noémie Le Donné, diretora de Educação da OCDE, destacou o impacto global das competências socioemocionais. “Analisamos evidências sobre o impacto de 74 intervenções de aprendizagem social e emocional baseadas na escola em diversas áreas. Isso mostra que é possível desenvolver esses estudos em diferentes contextos, formatos e lugares. As análises demonstram que competências como autocontrole, assertividade, empatia e inteligência emocional podem ser ensinadas em ambientes escolares, em todas as faixas etárias e contextos nacionais.”
Da teoria à prática
Durante o encontro, foram abordados temas como a integração das competências socioemocionais aos currículos escolares, os desafios de implementação e as oportunidades para expandir práticas bem-sucedidas. “O workshop conecta a pesquisa com a ação política, criando pontes entre as evidências científicas e as decisões estratégicas, fundamentais para fortalecer políticas educacionais”, afirmou Beatriz Alquéres, gerente-executiva de Advocacy do Instituto Ayrton Senna, que mediou os debates e fomentou as discussões sobre o tema.
Experiências em todo o Brasil
Com o objetivo de promover a troca de experiências entre as redes de ensino, secretários de educação de diversas localidades compartilhar iniciativas de educação socioemocional em seus territórios, Herbert Lima, secretário de educação de Sobral, reforçou a relevância da parceria com o Instituto Ayrton Senna. “Sobral avançou significativamente no Ideb ao integrar competências socioemocionais às políticas educacionais. Nosso foco é garantir que a excelência acadêmica caminhe lado a lado com o desenvolvimento integral dos estudantes”, afirmou. Os estados de São Paulo e Espírito Santo também compartilharam suas experiências.
Raquel Teixeira, secretária de educação do Rio Grande do Sul, compartilhou os avanços no estado na revisão do currículo escolar para incorporar competências socioemocionais e questões climáticas. “A escola deve ser o centro de reforço para aprendizagens cognitivas e socioemocionais. No RS, estamos construindo escolas resilientes para enfrentar os desafios do século 21. O Instituto Ayrton Senna e a OCDE compartilham bases conceituais que enriquecem esse diálogo”, comentou.
Além de tais gestores, também estiveram presentes representantes das secretarias de educação do Tocantins, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, São Paulo e Acre, entre outros municípios e estados. Todos os gestores puderam trocar experiências, comentar as apresentações dos colegas e compartilhar seus desafios locais.
Próximos passos
Por fim, os participantes discutiram possíveis ações a serem levadas adiante para fortalecer a educação socioemocional no Brasil. Rossieli Soares, secretário de educação do Pará, trouxe uma visão prática à questão. “A BNCC trouxe o desenvolvimento socioemocional com mais força, e este é um primeiro passo. Precisamos ter clareza de que o socioemocional deve estar no topo da cadeia, pois afeta tanto o cognitivo quanto a convivência. É necessário investir em ciência e integrar o tema à formação dos professores, abordando-o com a mesma prioridade que damos à matemática.”
Por sua vez, Maria Helena de Castro, titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna na USP, ressaltou a necessidade de alinhamento sistêmico. “A Base Nacional Comum Curricular trouxe esse olhar, mas há um longo caminho para transformá-lo em prática. Precisamos alinhar currículo, avaliação e formação docente para que os professores estejam preparados para ensinar e avaliar essas habilidades”, destacou.
Ewerton Fulini, vice-presidente do Instituto Ayrton Senna, encerrou o evento destacando a necessidade de ampliar práticas exitosas em escala nacional. “Discutir o desenvolvimento de competências socioemocionais nas escolas nos permite aprender o que funciona e o que devemos implementar para alcançar uma educação integral. Tivemos avanços, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, concluiu.
O workshop reafirmou o compromisso do Instituto Ayrton Senna com a promoção de uma educação integral e evidenciou a necessidade de políticas públicas estruturadas para gerar impactos duradouros na educação pública brasileira.
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