Por Mozart Neves Ramos
(IstoÉ Online‐ Opinião ‐ 05/07/2017)
O tema dessa coluna pode parecer novidade para muitos, mas não é bem assim. Quatro séculos antes de Cristo, Aristóteles já falava da necessidade de se prover uma educação que preparasse as pessoas plenamente para a vida, ao dizer que “educar a mente sem educar o coração não é educação”. Estamos nos referindo à educação integral, o que implica na inclusão do desenvolvimento de habilidades socioemocionais (tais como colaboração, autoconhecimento e persistência, entre diversas outras) no processo educacional para a formação plena das pessoas, como também apregoa o Artigo 205 da Constituição Federal. A novidade, talvez, esteja no fato de que a escola, na sua larga maioria, não deu a atenção devida à inclusão dessas competências tão fundamentais no currículo escolar – ou pelo menos não fez isso de forma intencional.
Uma coisa é certa: sem incluí-las de forma intencional no ambiente escolar, não se consegue desenvolver plenamente o potencial das novas gerações, de maneira a ampliar suas oportunidades de vida, tornando-as agentes de transformação. Para promover uma educação integral, entretanto, é preciso que profissionais de educação, pesquisadores de diversas áreas do conhecimento e demais atores socias trabalhem de forma colaborativa para transformar a atual realidade das escolas. Isso requer que se promova, por sua vez, inovações no desenho e na implementação de práticas e políticas educacionais.
Nessa perspectiva, é preciso valorizar alguns princípios comuns nas diversas formas de atuação para se colocar em prática a educação integral, tais como:
Corresponsabilidade. O direito à educação deve ser assegurado com o envolvimento de todos pela educação, numa ética de corresponsabilidade entre o primeiro, o segundo e o terceiro setores, além de famílias e cidadãos mobilizados de forma coletiva e solidária, em consonância com o Artigo 205 da CF.
Duplo desafio. A educação necessária para o século 21 é aquela que enfrenta simultaneamente as dívidas do passado – que ainda hoje reprovam, excluem e atrasam os estudantes – e as exigências contemporâneas que pedem um novo patamar de competências para a vida, o convívio e o trabalho.
Protagonismo. Promover o protagonismo docente e estudantil é decisivo para que se vejam e sejam vistos como parte da solução e não do problema. Melhorar a qualidade do sistema de ensino, da escola e das aulas requer um novo olhar para a formação de gestores, educadores e estudantes.
Desenvolvimento integral. É preciso oferecer oportunidades de desenvolvimento integral na escola. Não apenas aprendendo a aprender, mas a ser, conviver e produzir. O aprender a ser tem centralidade sobre as demais dimensões da aprendizagem por permitir uma visão singular sobre o estudante e conexão da escola com seus projetos de vida.
Autonomia. A educação integral se refere à dimensão qualitativa da educação e não apenas à quantidade do tempo na escola. O objetivo maior da educação integral é a formação para a autonomia, entendida como o empoderamento dos estudantes para fazer escolhas fundamentadas em seus projetos de vida.
Competências para a vida. A formação para autonomia se faz por meio do desenvolvimento de competências que combinem aspectos cognitivos e socioemocionais, possibilitando aos estudantes se capacitarem para o autoconhecimento, a colaboração, a criatividade, a resolução de problemas, o pensamento crítico, a abertura para o novo e a responsabilidade no alcance de seus objetivos.
Tudo isso dialoga com as exigências de uma educação que seja capaz de preparar as pessoas não apenas para irem bem na vida escolar ou em suas profissões, mas também para serem cidadãos responsáveis, solidários e éticos em suas atitudes e crenças.
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