Não é de hoje que a educação brasileira se abriu para diálogos sobre a importância do desenvolvimento socioemocional dos estudantes para a concretização da educação integral, o que foi reforçado com a publicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Existem diversos movimentos e iniciativas com foco no estudante, mas um olhar direcionado aos educadores ainda requer atenção e ações específicas.
Nesse sentido, o Instituto Ayrton Senna desenvolve um projeto de ações formativas direcionadas para o desenvolvimento socioemocional de professores e gestores. Em uma das parcerias da organização, com a Secretaria de Educação de São Paulo, as formações dessa iniciativa acontecem por meio da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação do Estado de São Paulo (EFAPE) e são parte do conjunto de iniciativas da parceria, com foco na integralidade da educação, reconhecendo o educador como agente fundamental desse processo. Realizadas em formato digital, as formações foram iniciadas em 2019, com uma transmissão de abertura, e tiveram seguimento ao longo de 2020. O projeto permanece em andamento e, em 2021, até agora, já são 25.128 educadores formados.
As formações são idealizadas a partir de investigações e pesquisas sobre os elementos que influenciam a prática docente e a dimensão socioemocional do educador. Essas evidências são aplicadas na construção de itinerários formativos que consideram os desafios reais e o contexto atual de formadores e educadores, promovendo um desenvolvimento docente que representa uma ponte entre a ciência e a prática.
A proposta contribui também para a implementação da BNCC, no que diz respeito à inserção destas competências nas práticas escolares, além de levar os educadores a conhecer, refletir e desenvolver suas competências socioemocionais, que são fundamentais para o exercício de sua profissão. As ações se justificam especialmente no contexto em que as redes de ensino buscam lidar com desafios como os crescentes índices de evasão escolar, ampliar a conexão da escola com a vida dos estudantes, além de situações adicionais intensificadas pela pandemia.
Para Tânia Gomes, formadora da EFAPE, o desenvolvimento socioemocional é basilar para a constituição humana e pressuposto para garantir uma aprendizagem significativa. Segundo ela, essa importância já é inclusive reconhecida por iniciativas estaduais que se articulam com o projeto em parceria com o Instituto. “A Secretaria de Educação de São Paulo tem buscado oferecer a seus profissionais os tempos e espaços para mobilizar a autoconsciência e a autogestão emocional por meio do diálogo e participação em ações formativas estruturadas, com intencionalidade e foco nas diversas dimensões humanas no contexto educacional”.
A formadora também destaca que as experiências de formação permitem a coleta, a sistematização e a disseminação de informações que integram a base de conhecimento para uso formativo, além de gerarem indicadores de eficácia, impacto e satisfação dos educadores sobre as ações oferecidas. “Esses indicadores demonstram a relevância de projetos e programas de formação, que podem ser replicados em escala e regularidade, de forma a contribuir para elaboração de políticas públicas especificas para o desenvolvimento intencional de competências socioemocionais para os educadores”.
A seguir, veja um trecho do depoimento que a Tânia concedeu para a equipe do Instituto e conheça um pouco da perspectiva dela sobre o papel dessa iniciativa:
Como as formações de desenvolvimento socioemocional podem influenciar os educadores?
“Em um projeto promovido pelo Instituto Ayrton Senna voltado à formação para o desenvolvimento de competências socioemocionais junto aos servidores das escolas e Diretorias de Ensino. A ação foi transmitida via Centro de Mídias São Paulo e desenvolvida por meio rodas de conversa com especialistas e profissionais de diferentes funções e regiões do estado de São Paulo.
Uma professora, participante de uma das mesas, chamou a atenção por fazer um relato pessoal, visivelmente emocionada, sobre a Resiliência. Ela acreditava que esta seria a última habilidade a ser atribuída por ela mesma ou alguém. Ela se considerava como uma pessoa ansiosa, tímida, não merecedora e, em alguma medida, até mesmo pessimista. Porém, na escola na qual trabalhava, todos diziam que ela sempre tinha uma palavra amiga e encorajadora, demonstrava respeito e força para continuar, mesmo que ficasse tudo muito difícil. Ela dizia não entender muito bem isso.
Numa reunião na escola, ela ouviu que estas habilidades eram apreciadas pelos colegas e se surpreendeu ao ser considerada resiliente por eles. Ao ouvir isso, ela refutou, mas foi convencida por eles de seu papel de liderança em relação ao grupo. Entretanto, ela comentou também que a percepção dela sobre si mesma era diferente da percepção dos colegas, reconhecendo também que raramente eles diziam uns aos outros sobre suas qualidades – e que é preciso dizer. Por isso, ela não percebia o que reconheciam nela.
Ouvir este relato me fez refletir sobre o autoconhecimento e valor da empatia. Conhecer nossas potenciais e fragilidades nos permite ser mais colaborativos e assertivos. Neste caso, em especial, pensei sobre como a empatia e o reconhecimento podem iluminar o nosso espelho e nos mostrar como podemos engajar e inspirar sempre.
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