Por Mozart Neves Ramos
(Correio Braziliense ‐ Opinião ‐ 11/01/2018)
O final de 2017 foi marcado possivelmente pelo fato mais importante do ano: a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), estabelecendo direitos de aprendizagens para todos os estudantes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Um esforço dos últimos governos que contou com o apoio maciço da sociedade vinculada à área da Educação. Nesse contexto, há que registrar o belíssimo trabalho de mobilização do Movimento pela Base.
A sua implementação passa pela formação do professor, e aí reside, a meu ver, o grande desafio. As universidades precisam repensar urgentemente o modo como estão formando os nossos professores, tanto a chamada formação inicial como a continuada. O que se observa nos dias de hoje são professores com formação teórica, mas sem experiência prática de como conduzir uma sala de aula. Os atuais estágios curriculares são, em grande parte, um faz de conta. O próprio Ministério da Educação reconhece tal fato, ao introduzir, também no apagar das luzes de 2017, a chamada residência pedagógica. É bem verdade que essa iniciativa – ao menos ao que parece – está mais no campo da ideia. Mas já existem algumas poucas experiências exitosas no Brasil em escolas particulares e no Colégio de Aplicação Pedro II, no Rio de Janeiro. A Finlândia tem na residência pedagógica um dos pilares para formar seu professor – um dos melhores do mundo.
Compreendendo que a formação do professor passa a ser o calcanhar de Aquiles para que a BNCC tenha o êxito esperado, o Instituto Ayrton Senna, com larga experiência em formar professores no chamado chão de escola, efetivou uma parceria fundamental com uma das mais importantes universidades públicas do país, a Universidade Estadual Paulista (Unesp), e com a Universidade dos Centros Educacionais Unificados da cidade de São Paulo (UniCEU), com apoio do Ministério da Educação e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), na perspectiva tanto da formação inicial como da implantação de um modelo de residência pedagógica.
Além da questão da formação, precisamos também pensar em como atrair mais jovens bem formados para a carreira do magistério, face ao grande déficit de professores no Brasil. Isso passa por mudar o atual status do professor na sociedade. Nesse sentido, entendo que a questão não está no salário inicial, mas na ausência de um plano de carreira, tomando como referência uma formação ao longo da vida e os bons resultados em sala de aula. O desafio, como mostram alguns estudos – e como apontam os artigos do jornalista Antônio Gois, presidente da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) –, está de fato em colocar em prática um plano de carreira para o professor. De acordo com Gois, entre profissionais de 25 a 29 anos de idade (ou seja, no início de carreira), a média salarial dos empregados em outras profissões universitárias supera em 11% a registrada para professores do ensino médio e em 28% a dos que dão aulas nos primeiros anos do Ensino Fundamental. O maior problema é que, a partir daí, as outras carreiras registram aumentos muito maiores à medida que o profissional vai se tornando mais experiente.
Outro fator que desestimula o ingresso de jovens na carreira do magistério são as condições de trabalho. Uma parte importante de nossas escolas públicas não possui infraestrutura adequada para o trabalho do professor, sem falar nas questões de violência na escola, especialmente naquelas localizadas nas periferias das grandes cidades.
Entendo como importante a iniciativa do MEC de implantar, em 2017, em parceria com as secretarias estaduais de Educação, o modelo de escolas de Ensino Médio em tempo integral. Foram quase 500 escolas, e neste ano a expansão deve continuar. Tais escolas podem servir, a meu ver, de modelo para atuarem como residências pedagógicas, desde que estejam devidamente preparadas tanto em recursos humanos como na sua infraestrutura.
Portanto, a BNCC é apenas uma parte importante para melhorar a educação pública em nosso país. Esse passo foi dado, mas outras iniciativas precisam emergir com igual força, entre as quais a valorização do professor (plano de carreira e formação) e a melhora das condições de trabalho nas escolas quanto à infraestrutura. Muito ainda precisa ser feito, mas mostramos que quando há foco na mobilização, os resultados aparecem.
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