Por Mozart Neves Ramos, conselheiro do Instituto Ayrton Senna
Uma das razões da falta de efetividade do Plano Nacional de Educação quanto ao cumprimento das metas é a dificuldade que o país tem de colocar em prática o regime de colaboração. A Constituição é muito clara quando afirma que, para oferecer uma educação de qualidade, é preciso trabalhar com colaboração. E não é por falta de instrumento que os estados e municípios brasileiros não conseguem colocar em prática o regime: o PNE ressalta a existência dos chamados Arranjos de Desenvolvimento da Educação (ADEs) para este fim.
Para inspirar essas iniciativas no país, podemos citar experiências que se destacaram no cenário internacional. A teoria do impacto coletivo, por exemplo, publicada pela primeira vez em 2011, na revista Stanford Social Innovation, tem aproximado organizações da sociedade civil, empresários, distritos e escolas. Esta teoria foi desenvolvida após uma série de observações de programas de Educação que estavam gerando impacto sistêmico e de larga escala, características desejáveis para este campo.
Foi observado que, para resolver problemas complexos, é importante haver o compromisso entre pessoas e instituições de diferentes setores na construção de uma agenda comum. Até aí, não parece ser tão inovador – e de fato não é. Mas os pesquisadores inovaram ao elencar cinco princípios essenciais que devem ser conjuntamente adotados para se alcançar um impacto coletivo. São eles:
- Construir uma agenda comum, onde todos os envolvidos devem compreender o problema e compartilhar a visão do que precisa ser implantado na busca de uma solução;
- Concordar com os indicadores a serem adotados;
- Ter iniciativas de esforço mútuo lideradas pelos diferentes participantes;
- Promover comunicação contínua, que deve ocorrer de forma aberta e estruturada, a fim de criar confiança entre os participantes, manter a motivação comum e garantir que os objetivos sejam alcançados;
- Ter uma organização de apoio, que deve ser escolhida pelo grupo e será responsável por atividades como dar suporte às iniciativas, guiar estratégias, monitorar indicadores, manter o engajamento dos participantes e mobilizar recursos.
Quando analisamos os ADEs à luz da teoria do impacto coletivo, percebemos semelhanças em seus princípios, mas também algumas oportunidades de aperfeiçoamento. Por exemplo, percebemos que aqueles que instituíram um núcleo de gestão territorial – ou organização de suporte, como na teoria do impacto coletivo – tiveram mais continuidade. Este núcleo pode ser constituído por uma Secretaria de Educação, uma associação municipalista ou uma organização da sociedade civil que concentre as atividades de suporte instituídas pelo Arranjo.
Para que tudo isso ocorra, é preciso que os gestores educacionais estejam abertos a adotar uma gestão mais horizontalizada, em que a colaboração seja o eixo norteador, e isso significa aprender a trabalhar em rede. Não basta ter o desejo de colaborar: é preciso adotar um método que permita que a colaboração seja traduzida em ações estratégicas e táticas, que possam ser mensuradas e celebradas quando os resultados forem alcançados. E quem melhor faz isso no país, é o estado do Ceará, com ênfase no programa de alfabetização. Está na hora do Brasil aprender com o Brasil.
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