Organizações e educadores de todo o país se reuniram com Grupo de Trabalho liderado pelo Movimento pela Base para construção conjunta de caminhos para a educação integral
Como garantir que a proposta de educação integral defendida pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular) seja realmente colocada em prática nas escolas, em políticas públicas e nos diversos territórios? Quais princípios devem nortear as ações para isso? Em busca de propor uma construção coletiva de possíveis respostas a essas inquietações, um grupo de cerca de 80 educadores e especialistas em educação se reuniu em São Paulo e iniciou um trabalho que poderá auxiliar muitas redes de ensino e educadores em todo o País.
O encontro foi organizado pelo Movimento pela Base, um grupo não governamental de profissionais da educação que atua para apoiar a construção e implementação da BNCC. Este, que é atualmente o principal documento de referência para os currículos de todas as escolas e o trabalho de educadores em todas as regiões do Brasil, define os direitos de aprendizagens dos estudantes em todas as etapas de ensino da Educação Básica e em todas as áreas de conhecimento, e vai além: defende que o propósito do ensino deve ser o desenvolvimento integral dos estudantes.
Em linhas gerais, o que tem sido chamado de educação integral é o trabalho que busca garantir o ensino de qualidade nos componentes curriculares da mesma forma que a promoção de competências gerais que os estudantes devem poder desenvolver – como curiosidade, comunicação, pensamento crítico, entre outras. Embora o texto introdutório da BNCC apresente com clareza a necessidade de se oferecer a crianças, adolescentes e jovens essa educação integral, e explicite um conjunto de dez competências gerais que devem ser trabalhadas em todas as etapas e áreas do conhecimento, ainda é preciso avançar para que a implementação da Base realmente seja capaz de efetivar essa proposta.
“Daí a importância de debater e procurar construir sugestões de caminhos para essa implementação. Quando essa construção é feita de forma colaborativa e participativa, temos ainda mais chances de que esse trabalho seja significativo e de fato dialogue com a realidade dos educadores que atuam por essa educação”, afirmou Antônio Neto, consultor do Instituto Ayrton Senna e um dos mediadores do encontro.
Durante todo o dia, os participantes se organizaram em grupos bastante plurais: professores, diretores, representantes das equipes de secretarias de educação, pesquisadores de educação e integrantes de diversas organizações do terceiro setor puderam trocar ideias, percepções, conhecimentos e propostas. Com uma dinâmica bastante mão na massa, os grupos se revezaram em mesas de trabalho: pela manhã, cada mesa propôs uma elaboração e redação de princípios que devem nortear as ações em cinco perspectivas – dos estudantes, dos professores, das escolas, dos territórios e das políticas públicas. Pela tarde, as mesas identificaram e construíram orientações sobre como esses princípios podem ser efetivados, e quais os melhores canais para comunicar e engajar os interessados em colocar em prática essas orientações.
“Essa dinâmica mexeu com uma área da nossa criatividade incrível, e estimulou nossa produção. Ao mesmo tempo em que me faz refletir em ações que preciso levar para meu município, minha rede, mexeu também com minha percepção como profissional, como é que posso também ser agente nessas ações transformadoras”, comentou Celina Lira, coordenadora executiva da reformulação curricular em Teresina (PI). “O encontro foi altamente produtivo, a gente sai com reflexões e sensação de comprometimento de cada um; a gente não assinou um papel, mas o invisível conta também, a gente sai com esse compromisso de sermos atores nessa mudança que precisa acontecer”, analisou.
Para o professor de química no Ensino Médio da rede estadual de Pernambuco Manoel Santana, a participação de pessoas com experiências muito diversas agregou percepções variadas ao debate. “Senti que foi valorizada minha contribuição como professor, o que nem sempre acontece em debates sobre educação, infelizmente; saio daqui motivado porque encontrei muitas pessoas que estão em busca das mesmas respostas que eu”, contou. “Precisamos gerar mais entendimento para a sociedade de que a BNCC é referência para várias políticas públicas, e que fazer uma educação para um mundo com necessidades mutáveis e com novidades tão significativas a todo momento, requer uma educação com perspectiva libertadora”, defendeu.
No mesmo sentido, a representante da equipe de assessoria da educação básica na secretaria de educação de Belo Horizonte (MG), Maria do Socorro Lages, valorizou o comprometimento do GT com o desenvolvimento integral. “Com essa construção, valorizamos a não linearidade do desenvolvimento, rompendo reducionismos e assumindo uma visão plural, singular e integral dos estudantes”, analisou.
Para Celina, como muitas redes de ensino estão neste momento formulando ações para colocar em prática os currículos desenhados com referência na BNCC, é importante disseminar cada vez mais a perspectiva da educação integral. “Não é mais algo que só será feito por um ou outro professor mais sensível, a Base vem dizer que está na hora de todo professor fazer essa educação, é uma prática que deve ser generalizada, todo educador tem que se ver também de forma integral, projetar sua atuação nesse sentido, de maneira intencional e pensada. A educação integral é oficial, está aí e é fundamental, é a forma de dar mais sentido à educação”, defendeu.
O Instituto Ayrton Senna produziu um guia para auxiliar a elaboração de currículos a partir da BNCC.
Deixe um comentário e
compartilhe sua avaliação
sobre o conteúdo.
COMENTÁRIOS
Ainda não há comentários. Seja o primeiro a comentar.