Por Mozart Neves Ramos
(Correio Braziliense ‐ Opinião ‐ 06/02/2018)
Cooperar e não competir – esse deve ser o caminho de uma educação para o século XXI, na perspectiva de que todas as crianças possam ter acesso ao conhecimento de boa qualidade. Foi pensando assim que a Embaixada do Reino Unido organizou uma importante missão para conhecer as experiências de várias instituições britânicas no campo da educação, da ciência e da tecnologia.
Para nós, brasileiros, essas iniciativas no mínimo nos remetem a uma profunda reflexão, e sempre nos levam à conclusão de que temos uma estrada ainda longa a percorrer na linha da internacionalização de nossas atividades escolares e acadêmicas. Um dos principais entraves está no baixo percentual de pessoas que dominam o idioma inglês. Queiramos ou não, esse é o idioma por meio do qual nos comunicamos em todo o mundo. Nas universidades tradicionais americanas e inglesas, de cada cem alunos, 25 a 30 são estrangeiros. Em nossa mais tradicional e maior universidade, a Universidade de São Paulo, a cada 100 alunos matriculados, menos de 5 são estrangeiros.
Felizmente cresce no Brasil, especialmente nas escolas particulares de educação básica, o conceito da escola bilíngue. Nessas escolas, o inglês exerce uma função estratégica: a de preparar crianças e jovens para ter acesso a um conhecimento global. Se não investirmos na formação de alunos e professores quanto ao domínio da língua inglesa, teremos dificuldades de ocupar, no futuro, uma posição de protagonismo no mundo da educação. Refiro-me ao futuro na perspectiva de mudança e de esperança, porque hoje o Brasil ocupa uma posição vergonhosa na educação básica no cenário internacional da educação.
Nas últimas avaliações internacionais das universidades pelo mundo, as brasileiras têm perdido posições importantes, e uma das principais razões tem a ver com a baixa internacionalização de nossas atividades. Praticamente não se oferecem disciplinas em inglês em nossas universidades. Assim, deixamos de ter jovens de outros países estudando no Brasil, e isso implica a perda de uma visão multicultural de mundo para nossos próprios alunos.
Felizmente, começamos a perceber o movimento de algumas poucas instituições de ensino superior no sentido de romper com esse quadro atual, como o Insper, em São Paulo. Outro exemplo vem do menor estado do Nordeste brasileiro, Sergipe. A Universidade Tiradentes (Unit) inaugurou, no último mês de dezembro, o Tiradentes Institute, em Boston (EUA), numa parceria com a Universidade de Massachusetts – a UMass Boston. A Unit espera, dessa forma, potencializar suas atividades internacionais no campo do ensino e da pesquisa. Para isso, também está se preparando para ser avaliada pelo Conselho de Reitores das universidades europeias.
O período escolhido pela Embaixada do Reino Unido para essa missão não poderia ter sido melhor, apesar do frio. Coincidiu com uma das maiores feiras de tecnologia do mundo – a Bett. Foi uma oportunidade de ampliar cooperações e parcerias com instituições e empresas britânicas nos campos da tecnologia e da inovação.
Todos nós sabemos que o mundo está mudando, e muito rapidamente. É um erro pensar que as escolas não sabem disso – sabem, sim, mas precisam de ajuda para fazer a mudança. Sozinhas não vão conseguir. E a mudança não consiste apenas no formato da sala de aula e em colocar mais tecnologias na escola, mas principalmente em formar o professor para esse novo ambiente mundial do qual a tecnologia é parte integrante, mas não o todo! O professor contemporâneo precisa desenvolver uma visão antecipatória de mundo para motivar seus alunos e continuar assim a influenciar as gerações futuras.
Nesse sentido, conectar pessoas de diferentes culturas e experiências é uma das estratégias mais poderosas para melhorar a educação. Pensando assim, o Conselho Britânico começa a colocar em marcha o projeto Universidade para o Mundo. Saber trabalhar em rede, saber construir corretamente o networking será determinante para o sucesso das instituições, especialmente aquelas que trabalham com formação de pessoas – as escolas e as universidades.
Precisamos acordar para esses novos tempos. Precisamos, enquanto país, ousar mais. Ter coragem para romper com uma cultura atrasada, que olha mais pelo retrovisor do que pelo farol. É mais cômodo, mas podemos estar colocando em risco a esperança de futuros brasileiros na perspectiva de uma nação forte e inovadora.
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