Por Mozart Neves Ramos
(IstoÉ Online ‐ Opinião ‐ 22/11/2017)
Há um mês, o Ministério da Educação, através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgava os resultados da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) de 2016. O foco da mídia em geral, naquele mesmo dia, estava dirigido para alguns quilômetros dali, mais precisamente para a Câmara dos Deputados, onde deveria ser votado o prosseguimento ou não de denúncia contra o presidente Michel Temer para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Talvez essa seja a razão que explique, embora não justifique, a divulgação tão tímida desse grave quadro da Educação em nosso país. Ou será que nós, brasileiros, já nos sentimos indiferentes ao fato de que 50% das nossas crianças, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental, e a maioria já com mais de oito anos de idade quando da realização do exame, não sabem ler, contar e escrever?
Os países que priorizam o caminho de uma Educação de boa qualidade, em que todas as crianças e todos os jovens aprendem e concluem na idade certa sua formação básica, certamente estão muito menos vulneráveis às situações políticas que o Brasil vem passando nos últimos anos. Pois a Educação é o vetor mais importante para o fortalecimento da democracia e da cultura de paz de qualquer país, sem esquecer do enorme impacto na produtividade e na redução das desigualdades sociais e econômicas.
Por isso, os dados do analfabetismo de crianças em nosso país não poderiam passar tão despercebidos pela nossa sociedade. É um fato muito mais vergonhoso do que os 7 a 1 que levamos da Alemanha na última Copa do Mundo.
Se quisermos ter, de fato, um país mais justo e de oportunidades iguais para todos, será pela Educação que isto deverá ocorrer, cuja pedra angular é a alfabetização de nossas crianças. Há uma relação direta entre melhores níveis de alfabetização e as aprendizagens escolares nas etapas posteriores, que impactam fortemente na redução do abandono escolar e na gravidez na adolescência.
Além disso, se proporcionarmos uma educação integral (que não é tempo integral) às nossas crianças ainda na pré-escola, os impactos na vida futura dessas crianças são enormes, como mostram pesquisas longitudinais do prêmio Nobel James Heckman. Por exemplo, tais crianças terão 35% menos chances de ter problemas prisionais na sua vida adulta e 44% mais chances de concluir o Ensino Médio, quando comparadas com crianças que não tiveram a oportunidade de uma boa educação na primeira infância.
Por tudo isso, vamos dar luz à Educação em nosso país, não vamos nos tornar indiferentes a quadros tão graves como esse do analfabetismo de nossas crianças, pois o nosso futuro dependerá da boa educação que elas receberem.
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