Por Mozart Neves Ramos
(IstoÉ Online ‐ Opinião ‐ 17/05/2017)
Em setembro de 2015, por ocasião da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, realizada em Nova York, foi estabelecido um conjunto de 17Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, os chamados ODS, a serem implementados por todos os países do mundo até 2030. Diversas temáticas foram consideradas nesse encontro,que envolveu mais de 150 líderes mundiais, como a erradicação da pobreza, a segurança alimentar, a redução das desigualdades, as mudanças do clima e também o acesso à educação.
De acordo com o Relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland,de 1987, pensar em desenvolvimento sustentável e a construção de um mundo melhor significa levar em conta a capacidade de resolver as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de também satisfazerem suas próprias necessidades. Significa, em outras palavras, respeitar a capacidade do ecossistema.
Nessa perspectiva, os dados atuais são absolutamente preocupantes e alarmantes, o que justifica iniciativas como os ODS. Por exemplo, no que se refere ao crescimento demográfico da população mundial, é assustador perceber que, desde o surgimento da espécie humana até 1945, mais de dez mil gerações passaram pela Terra, até que a população mundial atingisse 2 bilhões de pessoas. Agora, no decorrer de apenas uma geração – a nossa – a população deverá aumentar de 2 bilhões para 9 bilhões. Em 2015, a população mundial já era de 7,3 milhões de pessoas!
No cenário da Educação, erradicar o analfabetismo no mundo é ainda um grande desafio.Uma considerável parcela de 20% da população mundial é formada por analfabetos. A larga maioria dessas pessoas (98%) encontra-se nos países de economias emergentes, e o número de mulheres analfabetas supera o de homens em torno de 60%.
O Brasil é a 8ª economia mundial, mas encontra-se na 79ª posição no ranking do Índice do Desenvolvimento Humano (IDH). Isso mostra o grande hiato existente entre desenvolvimento econômico e social. É um país que precisa fortemente de uma educação de qualidade para todos os brasileiros,de forma a mudar esse quadro.
De fato, ainda são enormes os problemas de acesso à escola por aqui, tanto na Educação Infantil e Pré-escola (0 a 5 anos), como no Ensino Médio. Dados de 2014 mostram que apenas 30% da população de 0 a 3 anos estão em creche, o que corresponde a 3,5 milhões de crianças. Na faixa etária de 15 a 17 anos, temos ainda 1 milhão de jovens fora da escola, apesar de estarem ainda em idade escolar. E quando falamos em qualidade da Educação, os dados preocupantes persistem: apenas 7% dos que terminam o Ensino Médio aprenderam o que seria esperado em Matemática; em Língua Portuguesa, esse percentual é de 28%.
Portanto, acredito que a oferta de uma Educação de qualidade passa, necessariamente, pela oferta de uma Educação Integral.E isso não significa apenas oferecer escolas em tempo integral, como muitos pensam. Pensar em Educação Integral é aterrissar no chão de escola os quatro pilares da Unesco de Jacques Delors: aprender a aprender, aprender a ser, aprender a conhecer e aprender a conviver. Em outras palavras, significa integrar às habilidades cognitivas as chamadas habilidades socioemocionais, tais como abertura ao novo, colaboração e persistência, entre outras. Felizmente, o Brasil deu um passo importante nessa direção ao inserir de forma explícita na terceira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), enviada ao Conselho Nacional de Educação (CNE), dez diretrizes globaisque também tratam dessas habilidades.
Singapura, país que ocupa posição de liderança na Educação mundial, é um belo exemplo de sucesso. O país tem conseguido, com grande êxito, aterrissar essas competências no ambiente escolar, investindo fortemente na formação de professores. Essa foi uma constataçãoque pude fazer in loco, ao participar de uma missão ao país, organizada pelo movimento Santa Catarina pela Educação. Singapura compreendeu que, para ser relevante no cenário mundial e manter o seu desenvolvimento sustentável, é preciso pensar a Educação como elemento estratégico e central. E foi além: entendeu também que não se trata de qualquer tipo de Educação, mas sim de uma Educação de qualidade e compatível com os novos tempos.
Deixe um comentário e
compartilhe sua avaliação
sobre o conteúdo.
COMENTÁRIOS
Ainda não há comentários. Seja o primeiro a comentar.