Projeto desenvolvido pelo Instituto Ayrton Senna está entre as onze iniciativas promovidas pela organização internacional para o desenvolvimento de competências essenciais para a vida no século 21
Foi lançada nesta semana a publicação “Fostering Student’s Creativity and Critical Thinking – what it means in school” (“Desenvolvendo a criatividade e o pensamento crítico dos estudantes – o que isso significa para as escolas”, em tradução livre), produzida pela OCDE (Organização Internacional para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) a partir das experiências de onze países que participaram de um projeto da organização internacional para apoiar iniciativas com este foco na Educação Básica. O lançamento aconteceu durante uma conferência de dois dias, em Londres, que também contou com uma série de apresentações de especialistas no tema e dos participantes para compartilhar práticas que ajudem as escolas a promover essas duas competências ao longo da formação dos estudantes.
O Brasil está entre as experiências inspiradoras reunidas no relatório, por meio de um trabalho do Instituto Ayrton Senna em parceria com as secretarias de Educação de Chapecó e de Santa Catarina e também da FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), entre os anos de 2015 e 2017. Por meio da parceria, foram realizadas formações de professores para a implementação de novas formas de promover e acompanhar o desenvolvimento da criatividade e do pensamento crítico de estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e alguns anos do Ensino Médio durante o trabalho de diversas disciplinas – como inglês, filosofia, biologia e outras. No total, cerca de 4 mil estudantes foram beneficiados pela iniciativa.
A gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna Laura di Pizzo apresentou os resultados do trabalho em uma das sessões da conferência. “Com o projeto vimos muitas mudanças nos estudantes, como se sentiram transformados, isso nos fez querer construir algo especial para eles. Muitos deles passaram a valorizar a criatividade e do pensamento crítico em suas vidas, e se sentem motivados quando a escola mostra que os apoia nesse desenvolvimento”, relatou. “Da mesma forma, os professores também sentiram que assim conseguem conectar a escola à vida dos estudantes. Queremos apoiar professores para conhecer essas competências cada vez melhor e construir boas oportunidades para desenvolver entre todos os estudantes.”
Para Carlos Gonzáles-Sancho, um dos analistas da OCDE e membro da equipe que conduziu a publicação, além de reunir bons recursos pedagógicos, a implementação do projeto em Chapecó também contribuiu com bons insumos para os pesquisadores de criatividade e pensamento crítico. “O projeto no Brasil conseguiu apoiar tanto o trabalho nas escolas quanto o avanço nas pesquisas sobre este tema. São contribuições essenciais para a construção de conhecimento, acho importante que organizações façam isso”, afirmou.
Na abertura da conferência, o diretor de Educação da OCDE, Andreas Schleicher, destacou que a vida no contexto atual apresenta muitos novos desafios aos estudantes que estão hoje na escola. “A digitalização pode ser um caminho para democratizar as relações, mas também para concentrar mais o poder; pode ser uma forma de personalizar as informações, mas também de homogeneizar o tratamento; pode empoderar as pessoas ou torna-las menos protagonistas do que fazem, tendo uma máquina te dizendo o que fazer ou como você se sente. É preciso tomar muita atenção nessas questões e valorizar cada vez mais as qualidades humanas”, defendeu. “O que fará a diferença no futuro de cada jovem são suas competências sociais e emocionais, a capacidade de construir relações, de compartilhar ideias, de criar. Mas hoje as escolas ainda não estão conseguindo de fato preparar as pessoas para isso, e os jovens encontram muitas dificuldades para ter realização no mundo atual.”
Para Schleicher, nesse contexto a aprendizagem deixa de ser apenas o acesso ao conhecimento e passa a estar mais relacionada à capacidade de construir conhecimentos novos. “O maior risco para a educação não é a ineficiência, é perder a relevância e o propósito. O papel dos professores se torna cada vez mais importante para garantir essa relevância e são eles que poderão ajudar os estudantes a pensar como cientistas, não apenas memorizar fórmulas, a refletir como filósofos, não apenas saber superficialmente alguns conceitos da filosofia”, afirmou. Segundo ele, quanto mais complexos se tornam os problemas da sociedade, mais necessárias se tornam habilidades socioemocionais como curiosidade, persistência, empatia.
“No topo da lista estão a criatividade e o pensamento crítico. Sem eles, é difícil viver no mundo volátil, ambíguo e repleto de dilemas como temos hoje. Precisamos pensar em como levar isso para a pedagogia, e sobre como podemos manter os esforços para promover o conteúdo das disciplinas de forma conectada entre si e também com essas competências. Devemos passar menos tempo tentando definir criatividade e pensamento crítico, investindo em caminhos para de fato promover a prática de professores que desenvolvam os estudantes nessa direção”, defendeu o diretor.
Esse é um dos principais objetivos da publicação lançada no evento, que reúne também experiências implementadas em países como Rússia, Índia, Inglaterra, entre outros. O material, inclusive, é considerado uma fonte para a inserção de itens sobre pensamento criativo que irão integrar a edição de 2021 do PISA (avaliação internacional realizada pelos países membros da organização, além de países parceiros, como o Brasil). Mais informações sobre a publicação podem ser encontradas no site da organização. Em breve, o material também vai compor um guia online da OCDE com compartilhamento de materiais pedagógicos e sugestões de boas práticas para qualquer educador que quiser promover a criatividade e o pensamento crítico de estudantes.
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