Visão de Estudante | CAPITULO 3

Parte do primeiro passo para a escrita do texto introdutório de um currículo de educação integral é a reflexão e a investigação sobre a quem ele atende. Afinal de contas, quem são os estudantes que estão nas escolas, quais são suas características, desejos, projetos e identidades, o que desejam para sua educação?

Se antes os currículos eram pensados levando em conta apenas o que se queria que os estudantes aprendessem até o final da Educação Básica, independentemente de seus pontos de partida, contextos e aspirações, hoje, a BNCC nos convida a rever esses posicionamentos.

A partir de agora, é preciso construir uma proposta de educação que atenda aos desafios contemporâneos, que forme sujeitos críticos, autônomos, cidadãos solidários e capazes de lidar com as demandas do século 21 e construir seus projetos de vida.

Daí a importância da realização de escutas atentas, não só dos estudantes da rede, mas também de toda a comunidade escolar: equipe pedagógica, professores, funcionários e familiares. É considerando suas ideias que devemos identificar diálogos com as proposições curriculares e reunir informações que apoiem a definição de um conjunto de competências cognitivas e socioemocionais no texto curricular, levando em conta as 10 competências gerais propostas pela BNCC.

Ensinando a sonhar e a conviver

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Jovens do século 21

Os estudantes de hoje fazem parte de uma geração transpassada pelas novas tecnologias. Quando eles nasceram, os computadores, os celulares e a internet já haviam transformado boa parte dos ambientes, hábitos e dinâmicas sociais. O mundo mudou para todos, mas mudou menos para eles, nativos digitais, íntimos das telas e dos cliques.

O uso da tecnologia e seus aspectos políticos, sociais e cognitivos na atualidade é tema do livro Polegarzinha, do filósofo francês Michel Serres. Segundo o autor, essa nova geração “vive uma outra história”, “não fala mais a mesma língua” e “não habita o mesmo espaço” que seus pais e avós. São novos homens e novas mulheres que têm outra relação com os acontecimentos da mídia e outras formas de consumir informação.

Para o autor, não é exagero dizer que a nova geração tem uma nova maneira de pensar.

A produção de Serres é um material inspirador para pensar a criança e o jovem do século 21 que vale a pena ser consultado. Confira abaixo alguns trechos:

“Essas crianças, então, habitam o virtual. As ciências cognitivas mostram que o uso da internet, a leitura ou a escrita de mensagens com o polegar, a consulta à Wikipédia ou o Facebook não ativam os mesmos neurônios nem as mesmas zonas corticais que o uso do livro, do quadro-negro ou do caderno. Essas crianças podem manipular várias informações ao mesmo tempo. Não conhecem, não integralizam nem sintetizam da mesma forma que nós, seus antepassados. Não têm mais a mesma cabeça.” (SERRES, 2013, p. 19)

“Por celular, têm acesso a todas as pessoas; por GPS, a todos os lugares; pela internet, a todo saber: circulam, então, por um espaço topológico de aproximações, enquanto nós vivíamos em um espaço métrico referido por distâncias. Não habitam mais o mesmo espaço. Sem que nos déssemos conta, um novo ser humano nasceu, no curto espaço de tempo que nos separa dos anos 1970. Eles não têm mais o mesmo corpo, a mesma expectativa de vida, não se comunicam mais da mesma maneira, não percebem mais o mesmo mundo, não vivem mais na mesma natureza, não habitam mais o mesmo espaço.” (SERRES, 2013, pp. 19-20)

“Agora distribuído por todo lugar, o saber se espalha em um espaço homogêneo, descentrado, de movimentação livre. A sala de antigamente morreu, mesmo que ainda a vejamos tanto, mesmo que só saibamos construir outras iguais, mesmo que a sociedade do espetáculo ainda procure se impor. Os corpos então, se mobilizam, circulam, gesticulam, chamam, conversam, facilmente trocam entre si o que têm junto aos lenços. Ao silêncio se sucede a tagarelice e à balbúrdia, a imobilidade? Não, antigamente prisioneiros, os Polegarezinhos se livram das correntes da Caverna multimilenar que os prendiam, imóveis e silenciosos, no lugar, bico fechado, rabo sentado.” (SERRES, 2013, p. 42).

Como escrever “Visão de Estudante”

Chegou a hora de colocar a mão na massa!

A seguir, veja algumas sugestões sobre como escrever sobre visão de estudante em cada parte do texto introdutório do currículo.

Essas ideias devem ser consideradas para orientar a escrita de todo o documento quanto à concepção das áreas, das didáticas, da formação continuada dos professores e dos estudantes que se pretende formar dentro da perspectiva da educação integral.

Na parte “Processo de elaboração do documento” do texto introdutório, recomenda-se que seja anunciado que o processo envolveu consulta à rede (se houve) e como foi a escuta dos estudantes.

Mas, afinal, como ouvir o que os estudantes têm a dizer? Encontre aqui um guia prático com três estratégias para fazer uma escuta com os estudante de sua rede ou sistema de ensino.

Em “Visão do estudante e de educação”, a concepção de educação integral deve identificar o sujeito para o qual deverão ser construídos os percursos formativos – não no sentido de determinar posições identitárias, mas sim no sentido de propor aprendizagens conectadas com as necessidades dos estudantes em seus contextos.

Em “Diretrizes do que o estudante deve saber”, leve em conta o perfil identificado dos estudantes.

E, finalmente, em “Temas contemporâneos”, indique os temas transversais e integradores relacionados às aspirações sobre o sujeito que se quer formar.

ACESSE O CAPITULO 4